Mulher branca faz fertilização in vitro com doador branco, e filho nasce negro nos EUA
Fonte: G1 Foto: Foto: AP Photo/Russ Bynum |
Krystena Murray afirma que
descobriu o erro da clínica apenas quando deu à luz o filho, um menino
saudável, em dezembro de 2023. Nesse momento ela percebeu imediatamente que o
bebê não havia se desenvolvido a partir de um de seus óvulos fertilizados em laboratório.
Isso porque o doador do esperma também era branco.
Quando confrontou a clínica sobre
o caso, Murray descobriu que os médicos haviam implantado o embrião de outra
paciente em seu útero. Apesar disso, Murray decidiu criar o bebê.
No entanto, Murray perdeu a
custódia da criança. Isso porque após relatar o erro à clínica de
fertilidade, a equipe da instituição localizou e notificou os pais biológicos
da criança, que exigiram a custódia. Segundo a mulher, para evitar uma batalha
judicial que poderia não vencer, ela decidiu entregar o menino, que tinha 5
meses de idade à época.
Murray entrou com um processo
civil contra a Coastal Fertility Specialists, em que acusa
a clínica de negligência por ter trocado seus embriões e pelo sofrimento
causado a ela. Segundo a mulher, no dia do parto, a alegria que sentia
pelo nascimento de seu bebê rapidamente se transformou em confusão e medo. (Leia
mais abaixo)
"Eu nunca me senti tão violada, e essa situação me deixou emocional e fisicamente destruída. Passei minha vida inteira querendo ser mãe. Amei, nutri e carreguei meu filho, e faria literalmente qualquer coisa para mantê-lo", disse Murray em uma coletiva de imprensa virtual.
A Coastal Fertility Specialists,
que opera uma clínica em Savannah e em quatro cidades na Carolina do Sul, pediu
desculpas em um comunicado por aquele que chamou de "erro sem precedentes
que resultou em uma troca de embriões". A clínica afirmou ter adotado
novos protocolos de segurança para evitar que esse tipo de erro ocorra
novamente.
"Este foi um caso isolado,
sem outros pacientes afetados", declarou a empresa. "Estamos fazendo
tudo o que podemos para corrigir a situação para os envolvidos neste
incidente."
A descoberta e a batalha pela
custódia
Murray afirmou que tudo parecia
normal quando iniciou o tratamento no início de 2023. Ela passou pelo processo
de injeções para estimular a produção de óvulos, que foram coletados e
fertilizados em laboratório com o esperma do doador. Ela engravidou na segunda
tentativa de implantação do embrião.
No entanto, Murray alega na ação
judicial que o erro da clínica foi "extremo e ultrajante" e a
transformou "involuntariamente em uma barriga de aluguel contra sua
vontade para outro casal". A mulher busca uma indenização financeira com o
processo.
Seu advogado, Adam Wolf, disse
que Murray ainda não sabe o que aconteceu com seus próprios embriões e que
as circunstâncias da troca ainda não estão completamente esclarecidas.
O escritório de advocacia de Wolf
já representou mais de 1.000 pacientes contra clínicas de fertilidade, muitas
vezes por casos de embriões perdidos, danificados ou armazenados em freezers
defeituosos. Ele afirmou que a troca de embriões é um erro raro.
"As clínicas de fertilidade
desempenham um papel essencial. Mas esse trabalho incrível traz uma grande
responsabilidade. Quando cometem erros como esse, as consequências são
devastadoras", disse Wolf.
O impacto emocional e o medo
de perder o bebê
Murray lembra que o dia do
nascimento foi marcado pela alegria, mas que rapidamente se transformou em
confusão e medo.
"Se essa criança não era
minha geneticamente, de quem era? E poderiam tirá-lo de mim?", pensou na
época.
Com receio, ela evitou postar
fotos do bebê nas redes sociais ou mostrá-lo para amigos e familiares. Pouco
depois do parto, chegou a cobrir o bebê com um cobertor durante um funeral para
evitar perguntas.
No início do ano passado, um
teste de DNA confirmou que o menino não era biologicamente seu filho. O
advogado de Murray informou que seu escritório notificou a Coastal Fertility
Specialists, esperando que a clínica melhorasse seus protocolos.
A clínica então identificou os
pais biológicos do bebê e os notificou sobre o nascimento ocorrido após a
implantação errada do embrião.
Murray conta que o casal entrou
com uma ação judicial contra ela no ano passado exigindo a custódia. Sem
chances de vencer a disputa, decidiu entregar o bebê em maio de 2023, quando
ele tinha 5 meses de vida. Desde então, não teve mais contato com ele.
"Eu já conhecia os riscos da
fertilização in vitro", disse Murray, mencionando possíveis complicações
como sangramentos, infecções e até esterilidade.
"Mas nunca considerei a
possibilidade de dar à luz o filho de outra pessoa e tê-lo arrancado de mim",
lamentou. "E acho que isso é algo que as mulheres deveriam saber que pode
acontecer."
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