Brasil avançou, mas ainda há desigualdade entre homens e mulheres
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Fonte: Agência Brasil Foto: JOÉDSON ALVES/AGÊNCIA BRASIL |
As mulheres
são a maioria da população brasileira, mas ainda enfrentam uma série de
desigualdades e violências em diversos âmbitos. O relatório Revisão
de Políticas Públicas para Equidade de Gênero e Direitos das Mulheres, divulgado
pelo Tribunal de Contas da União (TCU), mostra que, apesar
de avanços importantes nos últimos anos, as políticas para as
mulheres tiveram retrocessos no país e precisam de atenção.
O
relatório reúne as diversas iniciativas, programas, políticas públicas, estudos
e auditorias realizados no Brasil ao longo dos últimos 30 anos, voltados para
garantir os direitos das mulheres.
Segundo o
TCU, apesar de garantir os direitos das mulheres por meio de leis e outros
instrumentos legais e de o país ter tido avanços desde a Constituição de 1988,
nos últimos anos houve retrocessos em termos de institucionalização das
políticas públicas para as mulheres, principalmente durante a pandemia de
covid-19, que impactou mais fortemente as mulheres, especialmente as negras.
A secretária
de Controle Externo de Desenvolvimento Sustentável do TCU, Vanessa Lopes de
Lima, explica que os retrocessos institucionais começaram em 2015,
quando a Secretaria de Política para Mulheres perdeu o status de ministério e
passou a integrar o Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial, da
Juventude e dos Direitos Humanos. “Isso resultou em menor relevância
institucional, orçamento reduzido e paralisia de programas”, diz.
Desde então,
as políticas para as mulheres foram desempenhadas sempre por pastas que reuniam
também outros objetivos, como o Ministério dos Direitos Humanos. Apenas em 2023
foi criado o Ministério das Mulheres, responsável por cuidar especificamente da
temática de políticas para as mulheres e diretrizes de garantia dos direitos
das mulheres.
Não ter uma
pasta específica, segundo Lima, enfraqueceu a promoção de políticas públicas.
“Isso impacta
negativamente a garantia de direitos das mulheres, pois enfraquece a capacidade
do governo de implementar políticas eficazes e coordenadas para promover a
igualdade de gênero e proteger os direitos das mulheres.”
Um exemplo é
que, em 2022, de acordo com o documento, ocorreu a menor alocação de recursos
federais para o enfrentamento da violência contra a mulher, e o
registro também de baixa execução orçamentária e redução do escopo das
ações implementadas.
Entre 2019 e
2022, foram autorizados R$ 68,22 milhões para o enfrentamento da
violência contra a mulher, no entanto, apenas R$ 35,34 milhões (51,8%) foram
de fato liquidados. Apenas no exercício de 2022, o crédito autorizado foi
de R$ 950 mil, mas não houve nenhuma liquidação de recursos.
A falta de
políticas impacta também a garantia de direitos. Em relação à violência, no
primeiro semestre de 2022, 699 mulheres foram vítimas de feminicídio, o
que representa uma média de quatro mulheres mortas por dia. Este número é
10,8% maior que o total de mortes registrado no primeiro semestre de 2019.
Para o
tribunal, para dar efetividade aos direitos das mulheres e buscar a equidade, é
necessário incorporar a perspectiva de gênero nos diversos setores
governamentais, a fim de implementar políticas públicas transversais, que
percorrem praticamente todos os setores de atuação do Estado.
“O sucesso
dessas políticas depende, portanto, da definição de uma estrutura de governança
capaz de promover a coordenação e a articulação intersetoriais, além do
compartilhamento de dados e informações”, diz o relatório.
O tribunal
também considera essencial a criação de mecanismos institucionalizados de
coleta de dados que permitam ao Poder Público identificar os inúmeros subgrupos
existentes no grupo mulheres, em razão da interseccionalidade, e, ainda, que
haja uma adequada estrutura de governança, entre órgãos e entidades do governo
federal e em todos os níveis, que atenda à complexidade das questões
referentes a gênero.
Segundo o
TCU, a criação do Ministério das Mulheres sinaliza maior
prioridade à agenda das mulheres no âmbito do governo federal.
Cenário de
desigualdade
As mulheres
representam 51,2% da população brasileira, de acordo com dados do terceiro
trimestre de 2024 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad)
Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Ainda assim,
a desigualdade de gênero é um problema estrutural que se manifesta em várias
dimensões da vida social, econômica, política e cultural, refletindo em
discriminação, violência, acesso limitado a recursos econômicos e disparidades
em participação política, salários, emprego, educação e saúde.
Em relação
à diferença salarial entre homens e mulheres, o Brasil fica em 117º
lugar, no ranking do Global Gender Report, entre um total
de 146 países. Segundo a Pnad Contínua 2019, as mulheres recebem
cerca de 77,7% da renda auferida pelos homens.
Ao longo das
últimas décadas, de acordo com o relatório, foram desenvolvidas
políticas para reduzir essas desigualdades, como a criação da Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180, serviço
que recebe denúncias de violações contra as mulheres, encaminha o conteúdo dos
relatos aos órgãos competentes e monitora o andamento dos processos.
O país
instituiu também o Programa de Proteção e Promoção da Saúde e da Dignidade
Menstrual, que garante a distribuição gratuita e continuada de absorventes higiênicos e a Política Nacional de
Assistência Integral à Saúde da Mulher, que busca oferecer cuidados completos
para a saúde das mulheres.
Ao
esquematizar as políticas públicas, o relatório possibilitou também o
mapeamento dos principais problemas enfrentados pelas mulheres no
Brasil:
- violência (física, sexual,
psicológica, doméstica, institucional, feminicídio);
- deficiência no registro e na
gestão de dados relativos à violência contra a mulher;
- falta de garantia de ações de
saúde específicas e de direitos sexuais e reprodutivos;
- desigualdade na educação, em
áreas dominadas por homens;
- desigualdade no mercado de
trabalho e na autonomia econômica;
- baixa ocupação nos espaços de
poder;
- baixo percentual de municípios
com organismos de políticas para mulheres.
“Apesar de
alguns avanços, ainda há um longo caminho a percorrer para alcançar a igualdade
de gênero no Brasil. A desigualdade persiste em várias dimensões, como na
participação econômica e no empoderamento político. Isso reflete a baixa
participação das mulheres em posições de alto rendimento e no Parlamento, além
das diferenças salariais em relação aos homens”, diz Lima.
Segundo a
secretária de Controle Externo de Desenvolvimento Sustentável do TCU, a atuação
tanto do setor público quanto do privado é essencial. “O setor público é
fundamental, pois pode servir como referência e indutor de políticas que
promovam a igualdade de gênero”, diz.
“Além disso,
o setor privado e a sociedade civil têm papéis essenciais. O setor privado pode
contribuir para a redução da desigualdade de gênero ao adotar práticas de
contratação e promoção que favoreçam a equidade, enquanto a sociedade civil
pode pressionar por mudanças e monitorar a implementação de políticas
públicas”, completou.
Pequim +30
O relatório,
que foi lançado em webinário no canal do TCU no
Youtube, é uma contribuição do tribunal para a Plataforma de Ação de
Pequim, que completa 30 anos em 2025.
A
4ª Conferência Mundial sobre as Mulheres, realizada em 1995, resultou
na aprovação da Declaração e Plataforma de Ação de Pequim. A Declaração de
Pequim é um marco global de políticas e um plano de ação para alcançar a
igualdade de gênero e o empoderamento de mulheres e meninas em todo o mundo. A
declaração foi adotada por 189 países, entre eles o Brasil.
Segundo a ONU
Mulheres, o 30º aniversário de Pequim abre novas oportunidades para reconectar,
renovar compromissos, impulsionar a vontade política, mobilizar o público e
avaliar o progresso alcançado e as ações necessárias para superar os obstáculos
à igualdade de gênero e implementar os Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS) até 2030.
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