Pandemia ainda impacta educação no Brasil, aponta estudo
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Fonte: Agência Brasil Foto: SME-Porto Alegre |
O
Brasil ainda não se recuperou, na educação, dos impactos gerados na pandemia. O
acesso à educação, que vinha melhorando, teve piora durante a pandemia e ainda
não recuperou o mesmo patamar observado em 2019. A alfabetização das crianças,
que tiveram as aulas presenciais suspensas, piorou e o percentual daquelas que
ainda não sabem ler e escrever aos 8 anos de idade aumentou consideravelmente
entre 2019 e 2023.
As
informações são do estudo Pobreza Multidimensional na Infância e Adolescência
no Brasil – 2017 a 2023, foi lançado pelo Fundo das Nações Unidas para a
Infância (Unicef) em janeiro. O estudo, que é baseado na Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios Contínua (Pnad C) do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), em relação à educação, analisou as privações de acesso à
escola na idade certa e alfabetização.
Os
dados mostram que em relação ao acesso, ao longo dos anos houve oscilações, com
avanços e retrocessos, muitos deles ocorridos no período de pandemia. Em 2017,
8,5% das crianças e adolescentes de até 17 anos estavam privados de educação de
alguma forma. Essa porcentagem caiu para 7,1% em 2019, subiu para 8,8% em 2021
e caiu para 7,7% em 2023.
Ao
todo, são quatro milhões de crianças e adolescentes que estão atrasados nos
estudos, que repetiram de ano ou que não foram alfabetizados até os 7 anos.
Apesar de representarem um percentual inferior a 2017, o país ainda não retomou
o patamar que havia alcançado em 2019.
O
estudo mostra ainda que há no país 619 mil crianças e adolescentes em privação
extrema da educação, ou seja, que não frequentam as escolas. Eles correspondem
a 1,2% daqueles com até 17 anos. Esse percentual, que chegou a 2,3% em 2021, na
pandemia, é inferior ao registrado em 2019, 1,6%.
No
Brasil, a educação é obrigatória dos 4 até os 17 anos é obrigatória no Brasil
de acordo com a Emenda Constitucional 59 e com o Plano Nacional de Educação
(PNE).
"Sabemos
que na educação, leva-se muito mais tempo recuperar os impactos. Então, essa
faixa é a que mais sofreu e os dados mostram realmente a importância de que se
façam políticas mais focadas e se fortaleçam as que estão sendo
implementadas", diz a chefe de Políticas Sociais do Unicef no Brasil,
Liliana Chopitea.
Alfabetização
Já
em relação à alfabetização, a pesquisa mostra que cerca de 30% das crianças de
8 anos não estavam alfabetizadas em 2023. Uma piora em relação a 2019, quando
esse percentual era 14%.
“Esta
disparidade sugere que as crianças que tinham entre 5 e 7 anos de idade em
2020, e que, consequentemente, experimentaram interrupções educacionais
críticas durante a pandemia, enfrentam um dano persistente em sua
alfabetização. O ensino remoto e as dificuldades associadas a ele, como falta
de acesso a recursos educacionais adequados e suporte pedagógico, podem ter
contribuído para essa defasagem significativa”, destaca o estudo.
O
estudo também mostra que há maior disparidade entre as crianças que vivem em
áreas rurais. “Notavelmente, para crianças de 7 a 8 anos de idade em áreas
rurais, o percentual de analfabetismo em 2023 atinge cerca de 45%, demonstrando
uma grave deficiência no acesso ou na qualidade da educação inicial nessas
localidades”, diz o texto.
Renda
familiar
Há
ainda desigualdades de aprendizagem de acordo com a renda das famílias. Segundo
a pesquisa, em 2019, os 25% mais pobres da população apresentaram um percentual
de analfabetismo de 15,6%, enquanto o quintil (medida estatística) mais alto,
ou seja, os 20% mais ricos, registrava apenas 2,5%. Em 2023, essa diferença
aumenta. O quintil mais baixo passa para cerca de 30%, e o quintil mais alto
aumenta ligeiramente para 5,9%.
“Este
padrão sugere que crianças de famílias de menor renda foram
desproporcionalmente afetadas pelas interrupções na educação causadas pela
pandemia de Covid-19, enquanto aquelas em situações econômicas mais favoráveis
tiveram mais recursos e resiliência para mitigar os impactos negativos no
aprendizado. A crescente disparidade entre os quintis de renda destaca a
necessidade urgente de intervenções educacionais direcionadas que possam
fornecer suporte adicional às crianças das famílias mais vulneráveis”, diz o
estudo.
A
meta do Brasil de acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que
estabelece o que as crianças e os adolescentes devem aprender a cada etapa de
ensino na escola, é que todas as crianças estejam alfabetizadas ao fim do 2º
ano do ensino fundamental, ou seja, aos 7 anos de idade.
Em
2023, o governo federal instituiu o Compromisso Nacional Criança Alfabetizada,
para garantir o direito à alfabetização na idade certa e também para recuperar
as aprendizagens das crianças do 3º, 4º e 5º ano do ensino fundamental afetadas
pela pandemia.
O
estudo diz que há indicações de “progressos significativos”, nos últimos dois
anos. A taxa de analfabetismo entre crianças de 8 anos caiu de 29,9%, em 2022,
para 23,3%, em 2024. Entre as crianças de 9 anos, houve uma redução de 15,7%,
em 2022, para 10,2%, em 2024.
"É
urgente que se tenha políticas públicas coordenadas em nível nacional, estadual
e municipal para reverter o problema do analfabetismo e retomar essa
aprendizagem. Muitas políticas e programas estão sendo desenvolvidos nos
últimos anos. Como vimos, leva mais tempo para recuperar o que foi o impacto da
pandemia, mas é importante continuar investindo nesses programas, como, por
exemplo, o Compromisso Nacional Criança Alfabetizada, que justamente tem como
finalidade garantir o direito à alfabetização das crianças até o fim do segundo
ano de ensino fundamental", defende Chopitea.
Pobreza
Multidimensional
Além
da educação, o estudo, analisou outras dimensões que considera fundamentais
para garantir o bem-estar de crianças e adolescentes: renda, acesso à
informação, água, saneamento, moradia, proteção contra o trabalho infantil e
segurança alimentar. Esta é a quarta edição desta pesquisa, realizada pelo
Unicef.
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