Renda do contrato intermitente foi menor que salário mínimo em 2023
Fonte: Agência Brasil Foto: Fernando Frazão |
Levantamento do Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostra que 76%
dos vínculos intermitentes de trabalho em 2023 tiveram remuneração mensal
inferior ao salário mínimo ou não tiveram remuneração.
De acordo com os dados, a
remuneração mensal média dos intermitentes foi de R$ 762, ou 58% do salário
mínimo (R$ 1.320 em 2023). Entre mulheres e jovens, a remuneração mensal média
foi ainda mais baixa, de R$ 661.
A criação do contrato de trabalho
intermitente ocorreu em 2017 na chamada reforma trabalhista, do governo Michel
Temer. Nessa modalidade de contrato, o trabalhador fica à disposição do patrão,
aguardando, sem remuneração, ser chamado. O empregado só recebe quando é
convocado. A renda é proporcional às horas efetivamente trabalhadas.
Segundo o Dieese, apenas um
quarto (24%) dos vínculos intermitentes ativos em dezembro de 2023 registrou
remuneração média de pelo menos um salário mínimo. Somente 6% receberam, em média,
dois salários mínimos ou mais.
A entidade ressalta que, se
incluídos na média os meses em que os contratos intermitentes estavam vigentes,
mas não geraram atividade, a remuneração média mensal recebida pelos
trabalhadores cai para R$ 542. Entre as mulheres, é reduzida para R$ 483.
Tempo de trabalho
O levantamento do Dieese mostra
ainda que, do estoque de intermitentes ativos no final de 2023, 41,5% não
haviam registrado nenhum rendimento ao longo do ano. No setor da construção,
mais da metade dos vínculos ficaram o ano todo parados. Segundo os
dados, a quantidade de meses em que os vínculos não resultaram em
trabalho foi maior do que a de meses trabalhados.
De acordo com o Dieese, quando
considerados os vínculos encerrados em 2023, a duração média dos contratos foi
de quatro meses e meio. Houve remuneração, em média, em 44% dos meses
contratados. Ou seja, em mais da metade dos meses em que os contratos
intermitentes estavam vigentes, não houve trabalho efetivo.
“Os dados disponíveis indicam
que, na prática, o trabalho intermitente se converte em pouco tempo de trabalho
efetivo e em remunerações abaixo do salário mínimo. Dois em cada cinco vínculos
do tipo não chegaram a sair do papel em 2023. Em média, os desligados em 2023
passaram mais tempo esperando ser chamados do que efetivamente trabalhando”,
diz o texto do levantamento.
O Dieese destaca ainda que não há
indícios de que o trabalho intermitente tenha contribuído para o ingresso
maciço de pessoas no mercado de trabalho formal, "já que 76% dos que tinham
esses contratos ativos em 31/12/2023 já possuíam outro tipo de vínculo formal
entre 2018 e 2022. Ou seja, apenas um quarto dos intermitentes estava fora do
mercado formal nos cinco anos anteriores".
O levantamento completo do Dieese
pode ser lido no site da entidade.
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