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Primeiro dia sem gelo no Ártico pode acontecer em 2027, alerta estudo

Fonte: G1 Foto: Céline Heuzé/University of Gothenburg


O primeiro dia sem gelo no Ártico pode estar muito mais próximo do que os cientistas previam. Um estudo publicado no dia três deste mês, na revista científica "Nature Communications" apontou que o derretimento total do gelo marinho da região pode acontecer já no verão de 2027.

A pesquisa inédita utilizou modelos de computador para prever quando o primeiro dia sem gelo poderia ocorrer no Oceano Ártico. Os resultados mais pessimistas mostram que esse evento pode ser visto daqui três ou quatro anos.

Céline Heuzé, professora sênior de Climatologia na Universidade de Gotemburgo, explica que o trabalho se iniciou com milhares de simulações disponíveis, mas foram selecionadas apenas as cerca de 300 mais realistas.

"Mostramos que a série de eventos necessários para fazer todo o gelo derreter já aconteceu no mundo real. Só tivemos sorte que não aconteceu na ordem necessária até agora", comenta Heuzé, uma das autoras do estudo.

🌊🌡️A pesquisadora comenta que o aquecimento das correntes oceânicas tem desempenhado um papel fundamental nesse processo, afinando a camada de gelo e derretendo-o por baixo ao longo de todo ano.

Mas os novos resultados evidenciam que, uma vez que o gelo marinho já está muito fino, as alterações no clima – como ondas de calor e tempestades – são o fator que mais influenciam no degelo.

"Descobrimos que todos esses primeiros dias sem gelo apresentados pelos modelos ocorrem durante um evento de rápida perda de gelo e estão associados ao forte inverno e aquecimento da primavera", explica a professora.

Apesar dos cenários mais pessimistas, a maioria das simulações previu que o primeiro dia sem gelo poderia ocorrer dentro de nove a 20 anos após 2023, independentemente de como as emissões de gases de efeito estufa forem alteradas.

Consequências do degelo

Um único dia sem gelo pode parecer pouco, mas as consequências do derretimento afetam diretamente não só o Ártico, como todo o clima global.

Heuzé destaca que todo o ecossistema da região depende do gelo marinho para sobreviver.

"Há algas crescendo na parte inferior [do gelo] e tudo, desde ovos de plâncton até bacalhaus polares, usando-o para se esconder. E na outra ponta, é claro, ursos polares o utilizam como plataforma de caça", detalha.

Ele pondera que é difícil precisar se um dia sem gelo seria o suficiente para afetar drasticamente essas espécies já estressadas. Mas o fato é que esse primeiro dia é apenas a ponta do iceberg.

"A partir do momento que há um dia sem gelo, torna-se mais provável perdê-lo ainda mais, com mais frequência ou por período maiores", prevê.

Com relação às demais regiões do planeta, a perda do gelo marinha teria um efeito desestabilizador do clima, resultando mais eventos climatológicos extremos, principalmente no hemisfério norte.

"Isso não é algo que acontecerá só no futuro. Isso já está acontecendo, pois o gelo marinho já está desaparecendo. Mas vai piorar sem gelo marinho no verão", alerta Heuzé.

Redução das emissões

Com vem sendo alertado há décadas pelos cientistas, a redução da emissão de gases do efeito estufa é a principal medida que pode desacelerar o processo de derretimento do gelo no Ártico.

Apesar do degelo já vir em ritmo acelerado e os eventos extremos do clima contribuírem diretamente para isso, qualquer diminuição nas emissões poderia ajudar a frear o derretimento.

"Modelos que estimam um aquecimento global abaixo ou em torno de 1,5°C até 2100, por exemplo, mostram que a ocorrência de um Ártico sem gelo ainda pode ser evitável", conclui o estudo.



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