Em teste desde o começo do ano, semana com 4 dias úteis funcionou no Brasil
Fonte: CNN Brasil Foto: Mario Gogh/Unsplash |
Foi aí que logo eu consegui meu primeiro emprego
formal como empacotador num mercadinho de bairro, que ficava quase em
frente à escola onde eu estudava.
De uma hora pra outra, eu senti o tranco de uma rotina que
me dava só dois domingos de folga no mês. Em todos os outros dias, eu
trabalhava. Apesar de ter sido isso que me deu as primeiras noções de
responsabilidade profissional, que eu carrego até hoje, trabalhar tanto,
durante tantos dias seguidos, era algo que eu logo percebi ser pouco
sustentável.
Mesmo depois de formado, eu demorei 15 anos até
conseguir ajustar a minha rotina pra uma realidade em que trabalhar
aos fins de semana fosse algo raro. A carreira de jornalismo tem o tal do
plantão que, via de regra, é o terror da nossa categoria.
Isso sem falar em todos os anos em que eu vivi um dia a dia
em que eu tinha que esperar até às 21h pra receber uma escala por e-mail e
saber que horas eu trabalharia no dia seguinte. E meu horário de entrada
poderia ser qualquer coisa no intervalo entre 5h e 18h. Não, não é exagero. Era
impossível ter a certeza de poder ir a uma consulta médica, a um curso ou aula
de pós-graduação, por exemplo.
Com o passar dos anos, isso foi me adoecendo e não foi
pouco. Não quero aqui ficar reclamando da vida, não me entende errado, por
favor. Eu sou muito, muito grato a absolutamente todos os lugares onde eu
trabalhei e cresci tanto pessoalmente quanto profissionalmente. Foram escolhas
minhas.
É que uma semana com 5 dias úteis pode já não ter mais tanta
justificativa, pelo menos pelo que mostra um projeto piloto que acabou de
trazer os primeiros resultados práticos aqui no Brasil. Eu tô
falando de uma parceria que foi feita entre duas instituições: a 4 Day
Week Global e a filial brasileira dela, a Reconnect Happiness
at Work.
O resultado do experimento foi divulgado agora em
agosto com ajuda da FGV, a Fundação Getúlio Vargas, e a conclusão é
bem interessante pra quem acha que trabalhar menos pode, sim, ser viável.
Esse negócio já tá sendo testado em mais de 500
empresas ao redor do mundo e propõe um modelo que os pesquisadores
chamam de 100-80-100, porque o trabalhador recebe 100% do salário,
trabalha 80% do tempo, mas se compromete a manter 100% da produtividade.
No ano passado, as instituições que se propõem a promover o
teste escolheram 21 empresas que toparam o desafio.
Dessas, só duas não concluíram o processo. Uma do Rio Grande do
Sul, que foi atingida pelas enchentes, e outra que teve uma mudança grande de
direção e desistiu do processo. Das 19 que ficaram até o fim, todas decidiram
continuar até o fim do ano com a semana de 4 dias, com aprovação de 97,5% dos funcionários.
Pode parecer meio óbvio que os funcionários aprovem um dia a
menos de trabalho na semana, mas o fato das empresas concordarem em estender a
iniciativa até o fim do ano mostra que a eficiência foi mantida.
Nenhum empresário seria maluco de seguir com um projeto que deixou os
funcionários felizes, mas ameaçou quebrar a companhia.
Segundo os responsáveis por compilar os dados recebidos
pelas empresas, os maiores desafios se concentraram na otimização das tarefas e
dos processos pra que a produtividade aumentasse durante os 4 dias de
trabalho da semana. Mas a experiência mostrou que isso foi possível.
Não que os funcionários precisassem correr desesperadamente
pra deixar tudo pronto até o fim da quinta-feira, mas saber que a sexta é de
folga, obviamente, faz com que as idas ao cafézinho e os almoços em
grupo sejam mais curtos.
Os funcionários que participaram do estudo gostaram tanto da
experiência que relataram mais satisfação na hora de ir trabalhar. De cada 100
profissionais, 87 disseram que ficaram com mais energia pra
trabalhar, e 73 não tiveram mais aquele sentimento constante de
exaustão. A gente tá falando de um universo de pouco menos de 300
profissionais.
Por mais que seja um piloto em empresas relativamente
pequenas, é uma iniciativa que dá um chacoalhão e faz a gente pensar
nos caminhos que a gente tá trilhando em rotinas que parecem ser a
única opção possível, mas talvez não sejam. Trabalhar menos dias por semana
talvez – e só talvez – seja uma oportunidade de ter profissionais que se sintam
menos sobrecarregados num país que, segundo a Organização Mundial da Saúde, tem
os maiores índices de ansiedade do mundo.
Não que trabalhar menos dias na semana seja a solução
definitiva de todos os nossos problemas, mas os números mostram que
pode, sim, ser um caminho. E não reconhecer isso pode ser o mesmo que se
conformar com uma realidade estabelecida que, claramente, não tá criando uma
geração de trabalhadores saudáveis.
E você? O que cê acha dessa história? Fala com o seu líder
sobre isso. Quem sabe ele não se anima a fazer o teste?! As inscrições pro
piloto da semana de 4 dias em 2025 já tão
abertos nesse link. Vai que dá certo pra sua empresa…
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