Casos de febre oropouche disparam no Brasil; conheça a doença
Fonte: Noticia ao Minuto Foto: © Shutterstock |
O número de casos de febre oropouche quadruplicaram no
Brasil. Enquanto em 2023 foram registrados 832 casos da doença, o Ministério da
Saúde (MS) contabilizou 3.354 apenas nas quinze primeiras semanas de 2024.
Do total deste ano, 2.538 dos casos são em residentes dos
Amazonas, seguidos por Rondônia (574), Acre (108), Pará (29) e Roraima (18).
Fora da região Norte, Bahia (31), Mato Grosso (11), São Paulo (7) e Rio de
Janeiro (6) foram os Estados com maior número de registros da doença.
De acordo com o MS, a descentralização do diagnóstico
laboratorial para detecção do vírus nos Estados da região amazônica, onde a
febre é considerada endêmica, é o principal motivo por trás do aumento no
número de casos.
A situação, contudo, é mais complexa. Enquanto locais da
Amazônia têm maior disponibilidade de exames, há outras regiões do Brasil sem
possibilidade de detecção, o que sugere que o número de casos de febre oropouche
seja muito superior ao registrado.
Além disso, outro fator que colabora com a subnotificação é
a semelhança entre os sintomas da oropouche com a dengue. Além de serem
arboviroses - grupo de doenças virais transmitidas principalmente por
artrópodes, como mosquitos e carrapatos -, os dois quadros costumam causar dor
de cabeça, nos músculos e articulações, além de náusea e diarreia.
Na análise da infectologista do Hospital Israelita Albert
Einstein, Emy Gouveia, o ritmo atípico da febre oropouche, assim como de
dengue, também pode ser associado ao fenômeno El Niño e às mudanças climáticas,
que resultam em temperaturas elevadas e chuvas irregulares, condições ideais
para a reprodução dos mosquitos transmissores e, consequentemente, disseminação
da doença.
Como o nome sugere, a febre oropouche é uma doença causada
pelo vírus oropouche. Transmitido aos seres humanos principalmente pela picada
do Culicoides paraensis, conhecido como maruim ou mosquito-pólvora,
esse vírus foi detectado no Brasil na década de 1960 a partir de amostra de
sangue de um bicho-preguiça capturado durante a construção da rodovia
Belém-Brasília.
Desde então, casos isolados e surtos foram relatados no
Brasil, principalmente nos Estados da região Amazônica. Também já foram
relatados casos e surtos em outros países das Américas Central e do Sul
(Panamá, Argentina, Bolívia, Equador, Peru e Venezuela).
Como ocorre a transmissão?
Segundo Emy, a transmissão ocorre quando um mosquito pica
primeiro uma pessoa ou animal infectado e, em seguida, pica uma pessoa
saudável, passando a doença para ela.
Existem dois tipos de ciclos de transmissão da doença:
Ciclo silvestre: nesse ciclo, os animais como
bichos-preguiça e macacos são os hospedeiros do vírus. Alguns tipos de
mosquitos, como o Coquilletti diavenezuelensis e o Aedes
serratus, também podem carregar o vírus, mas o maruim é considerado o
principal transmissor nesse ciclo.
Ciclo urbano: já no ciclo urbano, os humanos são
os principais hospedeiros do vírus. O maruim também é o vetor principal, porém,
alguns casos também podem estar associados ao Culex quinquefasciatus,
comumente encontrado em ambientes urbanos.
"A diversidade de mosquitos envolvidos na transmissão
do vírus é uma das preocupações mais sérias em relação ao aumento de casos no
Brasil, especialmente em regiões além da Amazônia, uma vez que a disseminação
pode ocorrer de maneira mais rápida, considerando que as pessoas também são
hospedeiras", afirma Emy.
Além da diferença entre os mosquitos vetores, que, no caso
da dengue, é o Aedes aegypti, as doenças se diferenciam pela
evolução do quadro clínico.
O paciente diagnosticado com dengue pode começar a sentir
dores abdominais intensas e, no pior dos casos, pode apresentar hemorragias
internas, o que não acontece na oropouche.
Uma característica específica da oropouche é a apresentação
de ciclo bifásico. Geralmente, a pessoa tem febre e dores por alguns dias e
eles desaparecem em seguida. Após uma semana, o quadro da doença retorna, até
sumir novamente.
Segundo Emy, não há casos de mortalidade pela doença. Porém,
uma outra característica marcante é que nos casos mais graves pode haver
comprometimento do sistema nervoso central, com quadros como meningite
asséptica e meningoencefalite, principalmente em pacientes imunocomprometidos.
Vale ressaltar também que, diferente da dengue, ainda não há
imunizantes específicos para a febre oropouche.
Quais são os grupos de risco?
De acordo com a infectologista do Hospital Albert Einstein,
os idosos e as crianças são os principais grupos de risco da febre oropouche.
No caso dos idosos, o perigo está relacionado à maior
possibilidade de desidratação e presença de comorbidades. Já entre crianças,
além da desidratação, a dificuldade de controlar a febre é o que amplia o risco
de a doença evoluir para um quadro pior.
Como o diagnóstico é feito?
Atualmente, apenas um exame faz a identificação da doença: o
RT-PCR desenvolvido pela Fiocruz Amazonas. A coleta é por meio do sangue e o
exame fica disponível nos Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacens).
Existem também testes que dizem se a pessoa tem anticorpos
da doença, e que revelam infecção recente, mas são poucos disponibilizados em
laboratórios.
"Geralmente, por causa da pouca disponibilidade de
exames, eles ficam restritos às pessoas com sintomas típicos da fase aguda da
doença ou que testaram negativo para dengue ou chicungunya. Além disso, quando
o paciente não é da Amazônia, mas teve passagem pela região, a atenção é
redobrada", afirmou Emy.
Como é o tratamento?
De acordo com a especialista, ainda não há um medicamento
específico para tratar a febre oropouche. Por isso, o tratamento é de suporte.
Ou seja, costumam ser administradas medicações para dor, náuseas e febre, além
da indicação de hidratação e repouso.
Outra diferença em relação à dengue é que a febre oropouche
não possui contraindicação de medicamentos. Então, a administração de
anti-inflamatórios é liberada. Mas, para isso, é essencial que exista uma
diferenciação do quadro clínico, já que a administração de certos medicamentos
durante a dengue pode agravar a situação do paciente, ocasionando inclusive
quadros hemorrágicos.
Como prevenir?
De acordo com o Ministério da Saúde, as formas de prevenção
incluem:
- Evitar áreas onde há muitos mosquitos, se possível;
- Usar roupas que cubram a maior parte do corpo e aplique
repelente nas áreas expostas da pele, especialmente nas regiões com maior
número de casos;
- Manter a casa limpa, removendo possíveis criadouros de
mosquitos, como água parada e folhas acumuladas;
- Se houver casos confirmados na sua região, é recomendado
seguir as orientações das autoridades de saúde local para reduzir o risco de
transmissão, como medidas específicas de controle de mosquitos;
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