Planta daninha resistente ao glifosato é identificada em lavoura de soja pela 1ª vez
Fonte: Canalrural Foto: Fernando Adegas/ Embrapa |
A dificuldade de controle foi relatada à Embrapa Soja por
técnicos da Coamo Agroindustrial Cooperativa, que observaram a sobrevivência de
uma população dessa espécie, no município de Juranda (PR).
“Mesmo após aplicações sequenciais de glifosato, nas doses
recomendadas nos rótulos e bulas, e executadas corretamente, o produto não
controlou as plantas de picão-preto em lavouras de soja”, relata o pesquisador
da Embrapa, Fernando Adegas.
Para avaliar o caso, um grupo composto por técnicos da
cooperativa e pesquisadores da Embrapa iniciou os estudos de comprovação da
resistência em condições controladas.
“Primeiramente, coletamos plantas sobreviventes na área para
iniciar os estudos. Foram avaliadas, em análises adicionais, amostras de
sementes e plantas de populações de picão-preto, também com suspeita de
resistência ao glifosato, provenientes de outras propriedades, assistidas pela
cooperativa Lar”, conta Adegas.
“Ao mesmo tempo da realização dos estudos de constatação da
resistência, conduzimos trabalhos de manejo dessa população (de plantas
daninhas), tanto em casa de vegetação quanto no campo”, diz o pesquisador.
Relatos no Paraguai
Em 2018, uma equipe de pesquisadores da Embrapa Soja e da
Universidade Estadual de Maringá identificou no Paraguai, o primeiro, e até
então o único, caso de resistência dessa espécie ao glifosato no mundo.
A Embrapa e as cooperativas Coamo e Lar estão elaborando
ações de monitoramento, manejo, mitigação e contenção da população de
picão-preto resistente.
“Também estamos planejando estudos para a determinação de
qual é o mecanismo de resistência ao glifosato dessa população e se existe
resistência múltipla a outros herbicidas”, afirma Adegas.
Esses estudos estão sendo feitos em parceria com a
Universidade Estadual de Maringá (UEM) e com a Pennsylvania State University
(PSU), dos Estados Unidos.
Histórico de resistência no Brasil
No Brasil, observa-se dois momentos relacionados à
resistência de plantas daninhas. Os primeiros casos no país foram relatados em
1993, relativos às espécies Bidens pilosa (picão-preto) e Euphorbia
heterophylla (leiteiro), resistentes a herbicidas inibidores da ALS.
Atualmente, os produtores vivem uma segunda etapa das
plantas daninhas resistentes ao herbicida glifosato. “Esse processo de
resistência está relacionado ao uso constante do mesmo princípio ativo, na
mesma área, e por longo período de tempo”, explica Adegas.
O uso intensivo do glifosato acarretou grande pressão de
seleção sobre as plantas daninhas, resultando na seleção de 12 espécies
resistentes. Entre elas, estão:
Azevém (Lolium perene spp multiflorum);
Três espécies de buva (Conyza bonariensis, C. canadensis, C
sumatrensis);
Capim-amargoso (Digitaria insularis);
Caruru-palmeri (Amaranthus palmeri);
Caruru-gigante (Amaranthus hybridus);
Capim-branco (Chloris elata);
Capim-pé-de-galinha (Eleusine indica);
Leiteiro (Euphorbia heterophylla);
Capim-arroz (Echinochloa crusgalli); e agora: picão-preto
(Bidens subalternans).
Aumento do custo de produção
Estudo realizado pela Embrapa avaliou que os custos de
produção em lavouras de soja com plantas daninhas resistentes ao glifosato
podem subir, em média, de 42% a 222%, principalmente pelo aumento de gastos com
herbicidas e pela perda de produtividade da soja.
Segundo Adegas, os valores sobem, em média, entre 42% e 48%,
para as infestações isoladas de buva e de azevém, respectivamente, e até 165%
se houver capim-amargoso resistente. Em casos de infestações mistas de buva e
capim-amargoso, por exemplo, o aumento médio é de 222%.
Processo de resistência
Adegas define a resistência como a habilidade herdada de uma
planta daninha em sobreviver e reproduzir-se após a exposição a uma dose de
herbicida normalmente letal (dose de bula) para a população natural.
“É uma ocorrência natural, devido às plantas daninhas
evoluírem e se adaptarem às mudanças do ambiente e ao uso das tecnologias
agrícolas”, explica.
Segundo ele, na prática, o surgimento da resistência ocorre
pelo processo de seleção de indivíduos resistentes, já existentes na população
presente nas áreas de produção, em função de aplicações repetidas e continuadas
de um mesmo herbicida ou de herbicidas com o mesmo mecanismo de ação, durante
determinado período de tempo.
Como prevenir a seleção de plantas resistentes
Entre os métodos preventivos recomendados, Adegas destaca a
aquisição de sementes livres de infestantes; a limpeza de máquinas e
equipamentos, especialmente as colheitadeiras e a manutenção de beiras de
estrada, carreadores e terraços livres de infestantes.
No controle mecânico, a indicação é pelas capinas e roçadas.
No caso de controle químico, a principal ação é a utilização de herbicidas de
diferentes mecanismos de ação, em distintos sistemas de controle.
Entre os métodos culturais, são recomendados a diminuição
dos períodos de pousio, o investimento em produção de palhada para cobertura do
solo e a utilização de cultivares adaptadas em espaçamento entre linhas, além
da rotação de culturas.
O estudo foi realizado seguindo o protocolo para relato de
casos de resistência de plantas daninhas a herbicidas, proposto pelo Comitê de
Resistência da Sociedade Brasileira da Ciência das Plantas Daninhas (SBCPD) e
aprovado pelos Comitê de Ação de Resistência aos Herbicidas do Brasil (HRAC-BR)
e Internacional (IRAC).
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