Polícia Civil cumpre 84 ordens judiciais contra associação criminosa que fraudou concurso de prefeitura
A Polícia Civil de Mato Grosso
deflagrou, na manhã desta quinta-feira (29.06), a Operação Ápate para
cumprimento de 80 ordens judiciais contra alvos investigados por fraude em
concurso público da Prefeitura de Mirassol d'Oeste.
A investigação, coordenada pelas
Delegacias de Mirassol d’Oeste e São José dos Quatro Marcos, teve início
durante a apuração de um crime de homicídio qualificado ocorrido em São José
dos Quatro Marcos. A partir do compartilhamento das informações entre as
delegacias foi aprofundada a investigação sobre o esquema arquitetado por um
grupo para fraudar o ingresso no concurso, que ofertou vagas para cargos nas
áreas de saúde, direito, educação, administração e serviços gerais, entre
outras.
A operação cumpre 84 ordens
judiciais, entre mandados de prisão, de busca e apreensão, afastamento de
sigilo bancário, suspensão de função pública, suspensão de atividade econômica,
medidas cautelares de monitoramento eletrônico e bloqueio de bens no valor de
R$ 1,6 milhão.
Os mandados de buscas estão em
cumprimento nas cidades de Glória d’Oeste, São José dos Quatro Marcos,
Indiavaí, Araputanga, Rio Branco, Porto Esperidião, Lambari d’Oeste, Cuiabá e
Mirassol d’Oeste.
Em 2020, a Prefeitura Municipal
de Mirassol d’Oeste lançou o Edital nº 001/2020 para abertura de concurso
público de provimento em cargos nos níveis fundamental, médio, técnico e
superior. A vencedora para administrar o certame público foi a empresa Método
Soluções Educacionais, com sede em Cuiabá, que realiza concursos para diversos
órgãos públicos no estado.
Porém, diante da pandemia da
covid-19, o concurso foi suspenso pela prefeitura por meio do Decreto Municipal
3.691/2020. Em 2021, o Edital Complementar 02/2021 da Prefeitura de Mirassol
d’Oeste retomou o concurso, com a publicação de novo calendário de provas.
As provas para os cargos de
níveis fundamental, técnico e médio foram aplicadas conforme o calendário
estabelecido. Contudo, as provas de nível superior foram remarcadas para 27 de
fevereiro de 2022, de acordo com o Edital Complementar 04/2022. O resultado
final do concurso foi publicado no dia 04 de maio de 2022 e o certame
homologado no dia 11 do mesmo mês, conforme o Decreto Municipal 4.213/2022.
Indícios do esquema
J.R.P., apontado no inquérito
como o operador do esquema de fraudes do concurso, teve um aparelho celular
apreendido em uma investigação sobre o homicídio do advogado e empresário
Francisco de Assis da Silva, proprietário do Grupo Fassil, em São José dos Quatro
Marcos. A vítima foi morta com disparos de arma de fogo no dia 11 de outubro de
2021, na frente de seu escritório, por dois atiradores. J.R.P. foi apontado no
inquérito como mandante do crime.
Após perícia no aparelho, os
policiais civis de Quatro Marcos apontaram em relatório de investigação
evidências da fraude no concurso público de Mirassol d’Oeste, com informações
que traziam como foi o esquema da associação criminosa, os envolvidos
diretamente na fraude e o valor pago pelos candidatos que teriam suas vagas
supostamente asseguradas. No desenrolar da investigação sobre o homicídio, a
Polícia Civil descobriu que a fraude envolvia a compra de, pelo menos 35
cargos, nas mais diversas áreas da prefeitura, que iam de auxiliar de limpeza a
cargos de dentista, enfermeira e procurador.
Em sentença do juízo da Comarca
de São José dos Quatro Marcos foi deferido o compartilhamento dos elementos
informativos para a Delegacia de Mirassol d'Oeste, que instaurou a investigação
sobre a fraude no concurso.
Esquema e valores pagos
As diligências realizadas pelas
Delegacias de Mirassol d’Oeste e de SJQM apontaram que no dia 21 de janeiro de
2022, ou seja, antes mesmo da aplicação das provas do concurso, o operador do
esquema, J.R.P., já tinha a relação com os nomes de 35 aprovados. Mas as provas
só seriam realizadas mais um mês depois, em 27 de fevereiro.
No decorrer das investigações, a
Polícia Civil identificou vários pagamentos pela compra de vagas por parte das
pessoas que constavam na lista encontrada com o operador do esquema. O valor
cobrado pelos responsáveis pelo esquema fraudulento foi de 10 vezes o salário
do cargo. Por exemplo, o salário inicial para o cargo de agente administrativo
é de R$ 2.702,31 e a pessoa que supostamente ficaria com a vaga pagou R$ 27 mil
à quadrilha. Os salários mais altos, conforme o edital, eram para os cargos de
auditor público interno, no valor de R$ 7.038,25 e de médico em várias áreas de
especializações, no valor de R$ 18.728,15.
Papéis no esquema
J.R.P. operava o esquema e era
responsável por intermediar a compra do gabarito, entre candidatos e o dono da
empresa responsável pela realização do concurso. Ele é proprietário de uma
empresa que presta serviços para prefeituras na região Oeste do estado.
Outras pessoas envolvidas no
esquema foram identificadas pela Polícia Civil, entre elas a chefe de gabinete
da prefeitura e o vice-prefeito de Porto Esperidião. A investigação apontou que
a mulher usou recurso público para pagar pela vaga no concurso para um
familiar. Já o gestor público auxiliou o operador da fraude a fazer a troca dos
gabaritos das provas do concurso.
A Justiça decretou as prisões
preventivas do operador do esquema, do proprietário da empresa realizadora do
concurso e da chefe de gabinete e do vice-prefeito de Porto Esperidião. A
mulher também teve a suspensão do cargo determinada judicialmente.
Todas as pessoas responsáveis pela compra das 35 vagas aos cargos do concurso foram identificadas na investigação da Polícia Civil e também responderão criminalmente.
Ordens judiciais
Foram deferidas pela Justiça:
07 ordens de bloqueio de bens
(valor aproximado de R$ 1,6 milhão);
09 medidas cautelares de
monitoramento eletrônico;
18 afastamentos de sigilos
bancários;
01 suspensão de exercício cargo
público;
05 suspensão de atividade
econômica, entre elas a da empresa realizadora do concurso;
40 buscas domiciliares;
04 prisões preventivas
Nome da operação
Ápate, na mitologia grega, era um
espírito que personificava o engano, o dolo e a fraude. Narra a mitologia que
Ápate foi um dos espíritos, junto com seu correspondente masculino, Dolos, o
espírito das ardilosidades, que saiu da caixa de Pandora.
Apoiam a operação Ápate as
delegacias da Regional de Cáceres e de Pontes e Lacerda, Delegacia
Especializada de Fronteira, Diretoria Metropolitana e Politec.
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