Uso de maconha pode afetar capacidade de pensar e planejar, diz estudo
Fonte: CNN Brasil Foto:Matthew Brodeur/Unsplash
À medida que mais e mais estados
se movem para legalizar a maconha nos Estados Unidos, os efeitos entorpecentes
estereotipados da maconha se tornaram ultrapassados, muitas vezes substituídos
por uma aceitação da droga como uma forma aceitável de socializar, relaxar e
dormir melhor.
No entanto, enquanto a sociedade
pode ter esquecido o impacto que a maconha pode ter no cérebro, a ciência não
deixou de se dedicar a essa investigação.
Estudos há muito mostram que
ficar chapado pode prejudicar a função cognitiva. Uma revisão da pesquisa de
janeiro de 2022, publicada na revista Addiction, descobriu que o impacto pode
durar muito além do efeito inicial, especialmente para adolescentes.
“Nosso estudo nos permitiu
destacar várias áreas de cognição prejudicadas pelo uso de cannabis, incluindo
problemas de concentração e dificuldades de lembrar e aprender, que podem ter
um impacto considerável na vida diária dos usuários”, disse o coautor Alexandre
Dumais, professor clínico associado de psiquiatria na Universidade de Montreal.
O impacto da maconha no cérebro
pode ser particularmente prejudicial para o desenvolvimento cognitivo dos
jovens, cujos cérebros ainda estão se desenvolvendo, disse a pesquisadora Megan
Moreno, professora de pediatria da Escola de Medicina e Saúde Pública da
Universidade de Wisconsin, que não participou do estudo.
“Este estudo fornece fortes
evidências dos efeitos cognitivos negativos do uso de cannabis e deve ser
considerado uma evidência crítica para priorizar a prevenção do uso de cannabis
na juventude”, disse Megan. “E, ao contrário da época de Cheech e Chong [dupla
humorística que abordava o tema da maconha nos anos 1970 e 1980], agora sabemos
que o cérebro continua a se desenvolver até os 25 anos.”
“Os pais devem estar cientes de
que os adolescentes que usam cannabis correm o risco de danificar seu órgão
mais importante, o cérebro”, alerta.
Pensamento de alto nível
A revisão de janeiro de 2022
analisou estudos com mais de 43 mil pessoas e encontrou um impacto negativo do
tetrahidrocanabinol ou THC, o principal composto psicoativo da cannabis, nos
níveis superiores de pensamento do cérebro. Essas funções executivas incluem a
capacidade de tomar decisões, lembrar dados importantes, planejar, organizar e
resolver problemas, bem como controlar emoções e comportamentos.
Você pode recuperar ou reverter
esses déficits? Os cientistas não têm certeza.
“A pesquisa revelou que o THC é
um composto solúvel em gordura que pode ser armazenado na gordura corporal e,
assim, gradualmente liberado na corrente sanguínea por meses”, disse Dumais,
acrescentando que pesquisas de alta qualidade são necessárias para estabelecer
o impacto a longo prazo dessa exposição.
Alguns estudos dizem que os
efeitos negativos no cérebro podem diminuir depois que a maconha é
descontinuada, mas isso também pode depender da quantidade, frequência e anos
de uso da maconha. A idade em que o uso de maconha começou também pode
desempenhar um papel, se estiver dentro do período crucial de desenvolvimento
do cérebro jovem.
“Até agora, as alterações mais
consistentes produzidas pelo uso de cannabis, principalmente seu uso crônico,
durante a juventude foram observadas no córtex pré-frontal”, disse Dumais.
“Tais alterações podem potencialmente levar a uma interrupção de longo prazo
das funções cognitivas e executivas.”
Além disso, alguns estudos
mostraram que “o uso precoce e frequente de cannabis na adolescência prediz
cognição ruim na idade adulta”, acrescentou.
Enquanto a ciência resolve isso,
“medidas preventivas e interventivas para educar os jovens sobre o uso de
cannabis e desencorajá-los de usar a substância de maneira crônica devem ser
consideradas… já que os jovens permanecem particularmente suscetíveis aos
efeitos da cannabis”, disse Dumais.
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