Mulheres, jovens e adeptos de suplementos estão mais propensos a transtornos de imagem, diz estudo
Fonte: CNN Brasil Foto: charliepix/Getty Images
Pesquisadores brasileiros
identificaram um conjunto de características que tornam uma pessoa mais
propensa a desenvolver transtornos mentais associados à imagem corporal e à
alimentação.
Um estudo com base em dados de
dois questionários respondidos por 1.750 voluntários aponta que o problema
afeta principalmente as mulheres, os mais jovens, os consumidores de
suplementos fitness ou de substâncias farmacológicas para mudar a forma
corporal. Também entram na lista os adeptos de dietas restritivas, os sedentários,
as pessoas com diagnóstico de obesidade ou sobrepeso e que fazem uma avaliação
ruim da própria alimentação.
O levantamento foi conduzido por
pesquisadores das universidades Estadual Paulista (Unesp) e Federal de Alfenas
(Unifal) e recebeu financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo (Fapesp). Os resultados foram divulgados na revista Environmental
Research and Public Health.
Segundo os autores, conhecer o
perfil dos indivíduos mais vulneráveis a esse tipo de transtorno do corpo pode
subsidiar estratégias preventivas e de promoção da saúde.
Ainda segundo o pesquisador, é
importante considerar que, embora transtornos como compulsão alimentar,
anorexia e bulimia nervosa tenham baixa prevalência na população, podem
desencadear problemas sérios.
“Eles estão fortemente associados
a afetividades negativas, como ansiedade, estresse e depressão, que estão entre
os principais desafios em saúde do século 21″, afirma.
Análise
No trabalho, os pesquisadores
aplicaram dois questionários para examinar a relação entre “atenção à forma
corporal”, “ansiedade física social” e “características pessoais dos
participantes”.
Na primeira etapa do estudo, que
envolveu 1.750 adultos brasileiros, foi identificado que, quanto mais os
indivíduos dão atenção à forma corporal, mais propensos são a esperar uma
avaliação negativa de sua forma física. Além disso, tendem a estar menos confortáveis
com a apresentação física do corpo.
As características mais comuns
entre os que apresentaram níveis elevados de atenção à forma corporal foram:
sexo feminino, consumo de suplementos fitness ou de substâncias farmacológicas
para mudar a forma corporal e realização frequente de dietas restritivas.
Já entre aqueles que apresentaram maior expectativa de avaliação negativa da forma física os traços mais comuns foram: sexo feminino, ser considerado um jovem adulto, consumo de substâncias farmacológicas para mudar a forma corporal, sedentarismo, autoavaliação negativa da qualidade da alimentação e presença de sobrepeso ou obesidade.
Os pesquisadores observaram ainda
que entre os indivíduos que estavam mais confortáveis com o próprio corpo em
geral eram mais velhos, do sexo masculino, sem sobrepeso ou obesidade, não
faziam uso de substâncias farmacológicas para modificar a forma corporal, não
realizavam dietas restritivas e praticavam atividade física. Além disso, nesse
grupo, a autoavaliação da qualidade da alimentação foi mais positiva.
O corpo real
Na segunda etapa do estudo, os
pesquisadores avaliaram uma subamostra composta por 286 indivíduos submetidos a
teste de bioimpedância, feito em um tipo de balança capaz de medir fatores como
o percentual total de gordura, a massa magra e o nível de gordura visceral.
“Com essa análise, observamos que
a composição corporal do indivíduo influenciou a percepção em relação à forma
física do corpo. As pessoas com maior quantidade de gordura e menor massa
muscular foram as mais suscetíveis a problemas”, relata o pesquisador.
De acordo com o estudo, portanto,
pessoas que têm uma preocupação excessiva com o corpo, a ponto de isso gerar
ansiedade, podem apresentar comportamentos disfuncionais tanto em relação à
alimentação quanto ao corpo.
“A grande questão do trabalho é
destacar que existem características individuais que sugerem maior
vulnerabilidade a comportamentos disfuncionais em relação à imagem corporal
negativa e alimentação transtornada. É importante prestar atenção a esses
comportamentos, pois eles representam a raiz de problemas futuros. Com isso em
mente, tem-se a oportunidade de desenvolver ações mais assertivas de prevenção
de doenças e promoção da saúde, seja em contexto coletivo ou individual”, diz.
O trabalho foi desenvolvido com
foco nos aspectos cognitivos (como a atenção à forma corporal) e afetivos (como
a ansiedade gerada quando o corpo é exposto) da imagem corporal. De acordo com
o artigo, no contexto da imagem corporal, quando os indivíduos voltam sua
atenção para o físico, podem experimentar sentimentos de adequação, mas também
de inadequação, que, dependendo da intensidade, podem desencadear transtornos
mentais como anorexia ou bulimia nervosa.
Silva explica que essa atenção
pode ser entendida como um processamento cognitivo seletivo, em que o indivíduo
se concentra intencionalmente em algo específico, ou baseado em estímulos
internos e externos.
“Nesse processo, a pessoa é
consumida por algumas informações enquanto negligencia outras e isso ocorre
individualmente, podendo variar de acordo com a intensidade de cada estímulo”,
explica.
Segundo o pesquisador, a
ansiedade está relacionada com o comportamento alimentar e com a relação que as
pessoas têm com a própria imagem corporal.
“Isso influencia as ações.
Portanto, uma pessoa com um nível alto de ansiedade pode se tornar mais
suscetível a ter algum transtorno alimentar, especialmente se possui problemas
com a imagem corporal. Pode usar estratégias inadequadas visando mudar a imagem
corporal, sem nenhum tipo de supervisão por profissional capacitado, e isso
comprometer sua saúde em vez de melhorá-la”, diz.
Entre os exemplos de
comportamentos disfuncionais estão a adoção de dietas restritivas ou da moda
sem acompanhamento especializado, a prática de exercício físico excessivo sem
supervisão e o consumo de suplementos alimentares ou substâncias potencialmente
danosas (anabolizantes, por exemplo) sem a devida prescrição. “Como se vê, são
várias estratégias que podem desestruturar a vida de um indivíduo em vários
aspectos, afetando tanto sua saúde física quanto mental e social”, destaca.
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