Mais de 1,6 milhão de crianças deixaram de tomar doses contra pólio, difteria, tétano e coqueluche em 3 anos
Fonte: CNN Brasil Foto:Marcos Lopes/MS
O Brasil atravessou um período de
retrocesso na vacinação infantil entre 2019 e 2021. É o que aponta um relatório
do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). O estudo alerta que 1,6 milhão de crianças não receberam
nenhuma dose da vacina tríplice bacteriana, que protege contra difteria, tétano
e coqueluche, nem a da poliomielite no período analisado.
Com isso, no ranking dos 20
países com a maior proporção de crianças desprotegidas, o Brasil ocupa a 12ª
posição. O país soma 40% das crianças não imunizadas na América Latina.
A ministra da Saúde, Nísia
Trindade, disse que o cenário preocupa o governo federal. “A memória do impacto
de doenças como sarampo e pólio parece ter sido perdida. Somos vítimas do nosso
sucesso, mas não podemos nos contentar com esses diagnósticos”.
Ela acrescentou que uma das
estratégias adotadas pela pasta é a busca ativa. “Enquanto uma criança não
estiver protegida, todas as crianças estarão em risco”. Uma ação de vacinação,
envolvendo escolas, deve ser empreendida no segundo semestre na região Norte.
O relatório do Unicef descreve
que 2,4 milhões de crianças não tomaram todas as doses da DTP; 2 milhões não
completaram o esquema da pólio. A recomendação do Ministério da Saúde é que as
crianças completem o esquema vacinal desses imunizantes até os quatro anos de
idade.
A tríplice bacteriana, também
chamada de DTP, é ministrada em quatro etapas: a 1ª dose aos 2 meses; a 2ª aos
4 meses; a 3ª, aos 6 meses de vida. O reforço deve ser aplicado entre os 15 e
18 meses do bebê.
Já a imunização completa contra a
paralisia infantil ocorre em três fases: são três injeções aos 2, 4 e 6 meses.
Depois, duas doses de reforço oral (gotinha) são aplicadas aos 15 meses e em
seguida até os 4 anos.
O Unicef alerta que a cobertura
vacinal no país é uma das menores da história desde a criação do Programa
Nacional de Imunizações (PNI). Atualmente, segundo balanço do governo federal,
em 2022, 77,1% das crianças foram vacinadas para DTP e 70,68% para pólio.
A baixa na vacinação atinge o
público infantil de maneira desigual: em zonas rurais e periferias das cidades
a cobertura vacinal é menor se comparada à de bairros mais ricos.
O levantamento informa que o
Brasil segue a tendência global: durante a pandemia de Covid-19, a cobertura
vacinal caiu em 112 países. Para o Unicef, a desinformação contribuiu para o
problema.
Isso levou a uma queda na
confiança da população em relação às vacinas: segundo a fundação, antes da
crise sanitária, 99,1% dos brasileiros confiavam nas vacinas infantis. Depois
da emergência de saúde, esse índice caiu para 88,8%. Homens com mais de 65 anos
predominam entre os que mais passaram a desconfiar das vacinas.
“O problema do Brasil não são
grupos antivax, tem um percentual alto (de confiança), 89% é bom, mas já foi
melhor. Houve aumento da hesitação vacinal, as famílias, com a vacina da
Covid-19 na pandemia, ficaram muito confusas: se vacinas protegem, se têm
efeito colateral, se é confiável. Isso sim afetou as demais vacinas”, disse
Cristina Albuquerque, chefe da unidade de saúde do Unicef.
Diante desse cenário, o Unicef
recomenda que as autoridades de saúde promovam uma busca ativa das crianças que
não foram vacinadas ou que estejam com a caderneta de vacinação incompleta.
Também aconselham a retomada da vacinação de rotina para prevenir doenças
evitáveis.
Para o representante do Unicef no
Brasil, Youssouf Ould Abdel-Jelil, apesar do cenário de desproteção, as
perspectivas são otimistas. “O país sempre foi um exemplo com o PNI e tem um
dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo, que precisa ser valorizado.”
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