Espectro do autismo requer tratamentos individualizados, aponta estudo do Butantan
Fonte: CNN Brasil Foto:Matiinu Ramadhan/Unsplash
O transtorno do espectro autista
(TEA) reúne diferentes condições marcadas por alterações no desenvolvimento
neurológico relacionadas a dificuldades de relacionamento social.
Cerca de 1 em cada 36 crianças
foi identificada com transtorno do espectro do autismo, de acordo com
estimativas da Rede de Monitoramento de Deficiências de Autismo e
Desenvolvimento dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos
Estados Unidos. No Brasil, não existem dados oficiais, mas estima-se que cerca
de 2 milhões de pessoas tenham autismo.
Embora a classificação do TEA
tenha evoluído nos últimos anos e os diagnósticos estejam acontecendo de forma
cada vez mais precoce, mais estudos são necessários para ampliar o conhecimento
sobre os diferentes graus da condição e permitir tratamentos mais
individualizados e efetivos. É o que mostra um estudo de revisão desenvolvido
no Instituto Butantan e publicado no Journal of Neurology Research.
Coordenado pelo pesquisador Ivo
Lebrun, do Laboratório de Bioquímica e Biofísica, e conduzido por sua aluna de
doutorado Nádia Isaac da Silva, o artigo traça um panorama da história do
autismo. Casos hoje reconhecidos como TEA vêm sendo estudados desde o início do
século XIX e, por muitos anos, foram associados à esquizofrenia. Somente na
década de 1980 que o autismo foi classificado como um distúrbio do
desenvolvimento causado, principalmente, por fatores genéticos.
“O trabalho resgata os primeiros
relatos de casos de autismo, a evolução do conceito e da classificação,
características clínicas, prevalência e perspectivas futuras, com o objetivo de
disseminar mais informações sobre o transtorno e incentivar a busca por novas
estratégias de intervenção”, afirma Nádia, em comunicado.
Segundo a autora da revisão, o
grande marco em relação à classificação do TEA foi a publicação da 5ª edição do
Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) pela
Associação Americana de Psiquiatria em 2013.
“O documento uniu todas as
subclasses do autismo, reconhecendo-o como um espectro com graus variáveis.
Isso aumentou as possibilidades de diagnóstico”, explica. No passado, por
exemplo, existia a Síndrome de Asperger, condição descrita pelo psiquiatra
austríaco Hans Asperger, que após o DSM-5 foi incorporada ao TEA. Em 2022, a
Classificação Internacional de Doenças (CID-11) seguiu o mesmo padrão,
unificando todos os quadros com características do autismo.
As novas classificações e a maior
conscientização sobre o tema têm ajudado a identificar o transtorno cada vez
mais cedo, entre 1 ano e meio e 3 anos de idade.
No entanto, o diagnóstico é
baseado somente em observação do comportamento e, muitas vezes, a criança é
acompanhada por apenas um especialista, dificultando uma análise conclusiva.
Para fechar o diagnóstico, é importante ter uma equipe multidisciplinar – com
profissionais como neurologistas, psiquiatras, psicólogos, fonoaudiólogos e
pedagogos –, e são poucas as pessoas que têm acesso a esse tipo de
acompanhamento.
“Cada pessoa com autismo é única,
com diferentes pontos do desenvolvimento comprometidos. Por isso, o ideal é que
cada paciente tenha um acompanhamento personalizado, englobando terapia ocupacional,
fonoaudiologia, intervenções educativas. Mas é difícil encontrar uma
instituição pública que tenha toda essa estrutura, e as particulares têm um
custo alto”, aponta Nádia.
Quando essas intervenções não são
suficientes, e a pessoa manifesta sinais como agressividade, depressão e
ansiedade, o tratamento também pode incluir medicamentos para amenizar os
sintomas.
Diversas estratégias têm sido
adotadas para ampliar o conhecimento sobre o TEA e possibilitar tratamentos
mais individualizados.
Uma das abordagens descritas no
artigo são os biobancos, que compartilham dados de amostras de sangue e
sequenciamento genético de pessoas com autismo entre pesquisadores de todo o
mundo.
Essas informações permitem a
descoberta de novos genes associados ao transtorno e de possíveis alvos
farmacológicos, além de ajudarem a identificar marcadores biológicos para
caracterizar e diferenciar os subgrupos do espectro.
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