Cientistas eliminam HIV em animais em nova técnica de edição genética, relata estudo
Fonte: CNN Brasil Foto: Thomas Barwick/Getty Images
Em um novo estudo, pesquisadores
conseguiram eliminar o HIV do organismo de animais a partir da combinação de
terapias antirretrovirais de ação prolongada e de uma nova técnica de edição
genética.
Enquanto o tratamento
antirretroviral forneceu uma supressão duradoura do vírus, a técnica de edição
de genes teve como objetivo agir tanto sobre o HIV quanto sobre um receptor,
chamado CCR5, que ajuda o vírus a entrar nas células.
A pesquisa foi conduzida pela
University of Nebraska Medical Center (UNMC) e pela Escola de Medicina da
Temple University e os dados foram publicados no periódico científico
Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
“A excisão do DNA do HIV-1 e a
inativação do CCR5 foram reunidas usando tecnologias de edição de genes
baseadas em observações de curas relatadas em pacientes humanos com HIV”, disse
Kamel Khalili, professor da Lewis Katz School of Medicine, em comunicado. “Nos
poucos casos de cura do HIV em humanos, os pacientes foram submetidos a
transplante de medula óssea para leucemia, e as células doadoras usadas
carregavam mutações inativadoras do CCR5”, completa.
O atual tratamento do HIV é
realizado a partir do uso de medicamentos antirretrovirais, que impedem o
processo de replicação viral no organismo humano. Ao bloquear a produção de
novas cópias do vírus, os medicamentos agem na redução da carga viral no
sangue.
A terapia atua no controle da
infecção, mas não é capaz de eliminar o vírus do organismo. Ele permanece em
reservatórios de células imunológicas, o que representa um dos maiores desafios
para a cura atualmente. Se o tratamento for interrompido, o vírus volta a se
multiplicar no corpo.
“Com a terapia antirretroviral, o
vírus para de se replicar, mas fica guardado em algumas células, nos chamados
reservatórios. Então, o objetivo dessas estratégias de cura é tentar erradicar
o vírus desses locais”, explica o médico infectologista Álvaro Furtado, do
Hospital das Clínicas de São Paulo, que não esteve envolvido no estudo.
Um dos alvos da busca pela cura
do HIV pelos cientistas é um receptor chamado CCR5, associado à entrada do
vírus nas células humanas.
“Nos últimos anos, pelo que foi
publicado na literatura, as estratégias de cura caminharam basicamente pelos
transplantes de medula óssea, em que há um doador que tem uma mutação para esse
receptor, que o vírus usa para entrar na célula, o CCR5. A pessoa ganha uma
medula nova, o vírus não consegue entrar nas células e acaba sendo eliminado
totalmente do organismo dos reservatórios imunológicos”, explica Furtado.
Outra linha de pesquisa consiste na edição genética, chamada CRISPR, também com o objetivo de alterar a capacidade do HIV de invadir as células humanas. O método foi utilizado pelos pesquisadores no novo estudo.
Edição genética
Em trabalhos anteriores, os
pesquisadores norte-americanos observaram que o HIV pode ser editado a partir
dos genomas de camundongos, levando à cura em alguns animais. Para evitar o
retorno da infecção, a equipe desenvolveu um novo sistema duplo destinado a
eliminar permanentemente o HIV do modelo animal.
“Os pesquisadores fizeram uma
edição genética dupla com essa técnica de CRISPR. Eles modificaram as células
do sistema imunológico dos camundongos, fazendo uma modificação genética nesse
receptor CCR5. Através dessa edição, eles impediram a expressão desse receptor,
ou seja, o vírus não conseguia mais entrar na célula. O segundo mecanismo foi a
edição gênica desse DNA que fica guardado dentro das células, dos
reservatórios, também impedindo a expressão desse material genético que fica
guardado dentro das células, que é o reservatório”, detalha Furtado.
A nova estratégia dupla de edição
de genes CRISPR representa um avanço na busca por novos métodos de tratamento
do HIV em humanos.
“É uma abordagem simples e
relativamente barata”, observou o Khalili. “O tipo de transplante de medula
óssea que trouxe curas em humanos é reservado para pacientes que também têm
leucemia. Requer várias rodadas de radioterapia e não é aplicável em regiões
com recursos limitados, onde a infecção pelo HIV tende a ser mais comum”,
pontua.
“Os pesquisadores conseguiram
observar que quase 60% dos camundongos não tinham mais o vírus. Isso abre
caminhos para estratégias de cura de um mecanismo de edição gênica dupla,
através dessa técnica de CRISPR, tanto nas células do sistema imunológico da
pessoa quanto também no material genético do vírus que fica guardado dentro das
células nos reservatórios imunológicos”, acrescenta Furtado.
A equipe estuda testar, em breve,
a estratégia de edição genética dupla em primatas não humanos. “Nós mesclamos
sucessos em medicamentos antirretrovirais e terapias genéticas criadas na
University of Nebraska Medical Center e na Temple University, respectivamente”,
disse Howard Gendelman, diretor do Departamento de Farmacologia e Neurociência
Experimental da UNMC.
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