Silenciosa e negligenciada, doença de Chagas atinge mais de 1 milhão de brasileiros
Fonte: CNN Brasil Foto:Josué Damacena/IOC/Fiocruz
A doença de Chagas faz parte do grupo de doenças tropicais
negligenciadas da Organização Mundial da Saúde (OMS). A enfermidade apresenta
elevada prevalência e carga de mortalidade expressiva, além de contribuir para
a manutenção de um ciclo crítico de pobreza.
A infecção, causada pelo protozoário Trypanossoma cruzi,
afeta cerca de 6 milhões de pessoas nas Américas, com incidência anual de 30
mil novos casos na região e, em média, 14 mil mortes a cada ano. Estima-se que
haja no Brasil, atualmente, pelo menos um milhão de pessoas infectadas por T.
cruzi.
Em estudos recentes, as estimativas variaram de 1,9 a 4,6
milhões de pessoas, provavelmente, mais próximo atualmente à variação de 1,0 a
2,4% da população. O Ministério da Saúde aponta para uma elevada carga de
mortalidade por Chagas no país, representando uma das quatro maiores causas de
mortes por doenças infecciosas e parasitárias. Nos últimos anos, foram
registrados cerca de 4 mil óbitos anuais no país, que tiveram como causa básica
o agravo.
O Dia Mundial da Doença de Chagas, celebrado no dia 14 de abril, em evento do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), a
pesquisadora Tania Araújo Jorge destacou a importância dos avanços na pesquisa
na área.
“Essa relação entre a pesquisa básica, a pesquisa clínica em
doença de Chagas, está avançando bastante por que estamos falando de Chagas com
pessoas diretamente afetadas, que são interessados em que a pesquisa gere produtos,
inovações e resultados”, disse.
Por que a doença de Chagas persiste como um problema de
saúde pública
Migrações sem controle, degradação ambiental, alterações
climáticas e concentração de pessoas em áreas urbanas são alguns dos fatores
determinantes para a transmissão do agente causador da doença de Chagas aos
humanos.
Com perspectivas desiguais, as populações infectadas
apresentam maior vulnerabilidade, com maior exposição a outras doenças. Falta
ou dificuldade de acesso aos serviços de saúde dificultam o diagnóstico,
levando a falhas nas estratégias de prevenção e acesso ao tratamento adequado,
aumentando a probabilidade de desenvolvimento de formas graves da doença.
O diagnóstico tardio também acontece devido à falta de
conhecimento de profissionais e de gestores de saúde sobre condições de risco e
informações acerca da identificação de novos casos. O atraso favorece o
agravamento do quadro clínico, levando a sequelas significativas para o
organismo, que são físicas, cardíacas, digestivas e neurológicas.
O risco de transmissão vetorial da doença de Chagas persiste
em função de diferentes fatores, como a a existência de espécies de
triatomíneos nativas com elevado potencial de colonização do domicílio ou
histórico recorrente de invasão ao ambiente domiciliar.
A presença de animais reservatórios de T. cruzi e a
aproximação cada vez mais frequente das populações humanas a esses ambientes
também é um quesito relevante para a transmissão. Assim como a persistência de
focos residuais de T. infestans no estado da Bahia.
De acordo com o Ministério da Saúde, soma-se a esse quadro a
ocorrência de casos e surtos por transmissão oral pela ingestão de alimentos
contaminados (caldo de cana, açaí, bacaba, entre outros), vetorial domiciliar
sem colonização e vetorial extradomiciliar, principalmente na Amazônia Legal.
Doença silenciosa
A doença de Chagas, também chamada de tripanossomíase
americana, apresenta uma fase aguda que pode ser sintomática ou não, e uma fase
crônica, que pode se manifestar nas formas indeterminada (assintomática),
cardíaca, digestiva ou cardiodigestiva – dependendo dos impactos causados no
organismo.
Estima-se que 60% das pessoas com infecção por T. cruzi
permanecem na forma indeterminada, 30% e 10% evoluirão para forma cardíaca e
digestiva, respectivamente.
Apesar da grande redução na incidência dos casos de doença
de Chagas aguda, evidencia-se nos últimos anos a ocorrência sistemática destes
casos relacionados à transmissão oral, principalmente na região amazônica, bem
como à transmissão vetorial.
O agravo apresenta expressiva mortalidade, além de ser uma
causa de incapacidade dos indivíduos. A forma cardíaca é a responsável pela
maior parte dos óbitos, sendo as manifestações clínicas agrupadas em três
grupos: arritmias, insuficiência cardíaca e tromboembólica (associada à
formação de trombose).
Normalmente a fase aguda é assintomática e pode passar
despercebida, de acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Quando aparente,
o quadro clínico da infecção surge de 5 a 14 dias após a transmissão pelo
vetor, sendo os principais sintomas: febre prolongada, com duração de mais de
sete dias, dor de cabeça, fraqueza intensa, inchaço no rosto e pernas.
Já na fase crônica, a maioria dos casos não apresenta
sintomas (60%), porém os demais podem apresentar problemas cardíacos e
digestivos, mais tarde, 20 a 40 anos depois da infecção original. O quadro
grave é caracterizado por febre de intensidade variável, mal-estar, inflamação
dos gânglios linfáticos e inchaço do fígado e do baço.
A transmissão acontece pelas fezes de parasitos infectados,
após picada pelo inseto barbeiro, ingestão de alimentos contaminados com
parasitos, transmissão de parasitos de mulheres infectadas para seus bebês,
durante a gravidez ou o parto, transfusão de sangue ou transplante de órgãos de
doadores infectados a receptores sadios e, acidentalmente, pelo contato da pele
ferida ou de mucosas, com material contaminado.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico oportuno é fundamental para o início imediato
do tratamento e a prevenção ao agravamento da doença com impactos cardíacos e
digestivos.
Na fase aguda e nas formas crônicas da doença de Chagas, o diagnóstico pode ser realizado pela detecção do parasito causador da infecção por meio de métodos laboratoriais de visualização do parasito direta ou indiretamente e pela presença de anticorpos no soro, por meio de testes específicos.
O tratamento da doença de Chagas deve ser indicado por um
médico, após a confirmação da doença. O remédio, chamado benznidazol, é
fornecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mediante solicitação
das Secretarias Estaduais de Saúde e deve ser utilizado em pessoas que tenham a
doença aguda assim que ela for diagnosticada.
Para as pessoas na fase crônica, a indicação desse
medicamento depende da forma clínica e deve ser avaliada caso a caso. Em casos
de intolerância ou que não respondam ao tratamento com benznidazol, o
Ministério da Saúde disponibiliza o nifurtimox como alternativa de tratamento.
A prevenção da doença de Chagas está associada à forma de
transmissão. Uma das formas de controle é evitar que o barbeiro forme colônias
dentro das residências, por meio da utilização de inseticidas.
Em áreas onde os insetos possam entrar nas casas voando
pelas aberturas ou frestas, pode-se usar mosquiteiros ou telas metálicas. O
Ministério da Saúde também recomenda a utilização de medidas de proteção
individual, como repelentes e roupas de mangas longas, durante a realização de
atividades noturnas em áreas de mata.
Nenhum comentário
Política de moderação de comentários:
A legislação brasileira prevê a possibilidade de se responsabilizar o blogueiro pelo conteúdo do blog, inclusive quanto a comentários; portanto, o autor deste blog reserva a si o direito de não publicar comentários que firam a lei, a ética ou quaisquer outros princípios da boa convivência. Não serão aceitos comentários anônimos ou que envolvam crimes de calúnia, ofensa, falsidade ideológica, multiplicidade de nomes para um mesmo IP ou invasão de privacidade pessoal / familiar a qualquer pessoa. Comentários sobre assuntos que não são tratados aqui também poderão ser suprimidos, bem como comentários com links. Este é um espaço público e coletivo e merece ser mantido limpo para o bem-estar de todos nós.