BRASIL
Fonte: G1 Foto:Paulo H. Carvalho/Agência Brasília.
O governo do presidente Jair Bolsonaro, nos quatro anos de gestão, propôs no Orçamento da União 94% menos de recursos para políticas específicas de combate à violência contra a mulher do que nos quatro anos imediatamente anteriores.
Os números fazem parte de um
levantamento do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), uma organização
não governamental sem fins lucrativos. Os valores foram corrigidos pela
inflação no período.
Entre 2020 e 2023, anos que
englobam os projetos de Orçamento enviados ao Congresso pela atual gestão,
foram indicados R$ 22,96 milhões para políticas específicas (recursos
carimbados) de combate à violência contra a mulher.
Nos quatro anos anteriores, ou
seja, no Orçamentos de 2016 a 2019 (que não foram enviados por Bolsonaro) esses
recursos eram de R$ 366,58 milhões. A queda é de 94%.
Após serem propostos, os valores
podem ser ajustados pelo Congresso nas discussões da lei orçamentária anual. Os
números mostram que os parlamentares geralmente elevam as dotações propostas pelo
Executivo. Ao governo, porém, cabem as últimas etapas: autorização para empenho
(reserva dos valores) e gastos propriamente ditos.
No Orçamento para 2022, por
exemplo, o governo propôs R$, 6,3 milhões para políticas específicas de combate
à violência contra a mulher. O Congresso elevou o valor para R$ 44, 3 milhões.
Até aqui, foram efetivamente gastos R$ 32,3 milhões .
O governo alega que está prevendo
mais recursos para a área por meio dos "planos de Orçamento".
Esses planos, no entanto, não
constam no projeto do Orçamento. Consistem em intenções do governo, mas não são
recursos indicados oficialmente na proposta orçamentária para um setor.
Um plano orçamentário pode prever
recursos, mas eles não estão de fato destinados a esse setor no projeto de lei
enviado pelo governo ao Congresso Nacional.
"Os planos orçamentários não
são um atributo legal, não estão na lei. Mas você tem, quando a proposta é
enviada, o detalhamento gerencial nesses planos. Esses valores podem mudar, e o
governo não precisa pedir autorização para o Congresso. As secretarias têm a
promessa que o dinheiro vai para elas, tem o compromisso de gastar lá, mas não
tem essa obrigatoriedade. Pode remanejar internamente", explicou Júlia
Rodrigues, consultora de Orçamento da Câmara dos Deputados.
Assim, o governo argumenta que,
observando os "planos de Orçamento", os valores propostos para
combate à violência contra a mulher entre 2020 e 2023 são maiores que os R$
22,96 milhões expostos nos projetos do Orçamento enviados ao Congresso nos
últimos quatro anos.
Nessas contas do governo, o valor total seria de R$ 39,86 milhões. Ainda assim, 89,1% menor que o dos quatro anos anteriores.
Segundo o Inesc, entretanto, a
destinação de recursos por meio de planos orçamentários dificulta ainda mais a
execução — o que traz "fragilidade total" para a política pública,
avaliou o Inesc.
"A partir do momento que a
ação não está 'carimbada', fica mais difícil a alocação acontecer. Mesmo a ação
orçamentária não garante a execução, mas garante a alocação. O recurso está ali
para ser gasto. Se não gasta, é um problema de eficiência da gestão. Aí, a
gente faz a crítica de 'por que não está gastando?'", explica Carmela
Zigoni, assessora política do Inesc.
Na avaliação do instituto, a
proposta de orçamento de 2023, enviada ao Congresso no fim de agosto, traz
"expressivos cortes nas políticas sociais em detrimento da garantia de
direitos e dos investimentos necessários para nos tirar da atual crise
econômica e social".
O Inesc concluiu que a proposta
de orçamento contempla um "desmonte generalizado das políticas
sociais".
"O próximo governo terá um
enorme desafio para conseguir combater as desigualdades sociais que se
aprofundaram nos últimos anos e garantir os direitos humanos",
acrescentou.
Em nota, o Ministério da Economia
afirmou que reservou R$ 52,2 milhões no Orçamento 2023 para ações de
"Promoção e Defesa de Direitos Humanos" – e que, dentro dessa
rubrica, há "planos orçamentários" para políticas setoriais de "direitos
das mulheres".
Dentro de um plano orçamentário
genérico, para "Operacionalização e Aperfeiçoamento do Sistema Integrado
Nacional de Direitos Humanos", o Ministério da Economia informou que
constam também R$ 33 milhões para o Disque 180 (canal que recebe denúncias de
violência contra as mulheres).
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