Número de desaparecidos em MT aumenta 11,8%, aponta Anuário
O número de pessoas desaparecidas em Mato Grosso aumentou 11,8% durante a fase mais aguda da pandemia de Covid-19, de 2020 a 2021, segundo dados do 16º Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
Segundo o relatório, o estado registrou, em 2020, 1.692
casos, o que corresponde à taxa de 48 desaparecimentos a cada grupo de 100 mil
habitantes. No ano passado, o número de ocorrências subiu para 1.914, o que
representa taxa de 53,7.
No ranking nacional de 2021, o estado aparece em 6º lugar,
ficando atrás do Distrito Federal (67,2); Rio Grande do Sul (55,6); Rondônia
(54,2); Santa Catarina (49,4) e Paraná (49).
Para o estudo, esse cenário mostra uma necessidade cada vez
maior de implementar uma política pública nacional.
"A magnitude dos dados de desaparecimentos de pessoas
no Brasil revela a urgência de diagnósticos mais precisos sobre o problema e a
implementação de uma política pública nacional, com informações centralizadas,
um sistema de compartilhamento de dados, protocolos e um canal permanente de
diálogo com os familiares de pessoas desaparecidas", sugeriu o documento.
Segundo o Anuário, apesar desses casos serem frequentes na
rotina dos policiais, ainda hoje não existe um tipo penal previsto em lei para
classificar estas ocorrências. Com isso, os registros entram na burocracia
policial como 'fato atípico'.
De acordo com o Anuário, as causas de um desaparecimento
reúnem diferentes fatores.
"Isso pode ser resultado de falhas de proteção de
pessoas em situação vulnerável, como pessoas com alguma doença, transtorno
mental ou senilidade, que frequentemente tornam o paradeiro de idosos
desconhecido; também pode se relacionar com algum desastre", destacou o
estudo.
Os registros consolidados pelo Anuário cumprem trazer mais
visibilidade ao fenômeno. Contudo, o próprio documento aponta que foram
levantadas mais questões do que efetivamente uma resposta. Isso se deve ao fato
de que muitos dados não são detalhados.
"Os dados não nos permitem dizer o número de pessoas
desaparecidas, o perfil destas pessoas e de seus familiares ou mesmo as
circunstâncias de seu desaparecimento. Mesmo a análise dos históricos dos
boletins de ocorrência muitas vezes não nos permite análises qualitativas sobre
as causas", destacou o estudo.
O que diz a polícia
Para o delegado titular do Departamento de Homicídios e de
Proteção à Pessoa (DHPP), da Polícia Civil, Fausto Freitas, esse aumento de
casos pode estar relacionado, a princípio, a alguns fatores.
"Em razão da retomada pós-pandemia, algumas situações
que anteriormente estavam dificultando ou mitigando o desaparecimento de
pessoas, como, por exemplo, de pessoas idosas que, durante a pandemia, tinham
companhia. Com a retomada ao trabalho presencial, os idosos voltam a ficar
sozinhos e muitas vezes acabam saindo de casa e não conseguem retornar",
explicou.
Segundo Freitas, a falta de registros também foi um
agravante.
"Durante a pandemia, houve uma subnotificação do
desaparecimento de pessoas. Familiares e amigos evitaram sair de casa para
fazer boletim de ocorrência desses casos", disse.
Para Freitas, a campanha de coleta de DNA para ajudar na
identificação também fez aumentar os registros.
" Algumas pessoas que nunca procuraram um familiar
agora estão procurando a polícia para fornecer DNA para comparação com
eventuais restos mortais", afirmou.
Metodologia
Desde 2017, o Anuário monitora as estatísticas de
desparecimentos em todo o país por meio dos boletins de ocorrência da Polícia
Civil.
Nos últimos cinco anos, o documento verificou que ao menos
369.737 registros foram feitos no país, o que significa uma média de 203 casos
diários por 100 mil habitantes.
No entanto, os números não correspondem ao total de
desaparecidos, afinal, uma pessoa pode ter mais de um registro de
desaparecimento, de acordo com a pesquisa. Isso acontece porque diferentes
familiares podem fazer o mesmo boletim de ocorrência ou duas pessoas podem
constar em um só boletim.
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