ESPORTE
Fonte: Globo Esporte Foto: Getty Images
Constatar que o Palmeiras tem
armas que podem causar danos ao Chelsea não significa dizer que o favoritismo
atravessou o Atlântico e migrou da Europa para a América do Sul. O
investimento, a concentração de jogadores de elite e a credencial de ter
vencido a maior competição de clubes do mundo estarão sempre do lado europeu da
final do Mundial de Clubes, ao menos até o futebol reduzir a desigualdade que o
marca. Ganhar a decisão exigirá um jogo perfeito do lado brasileiro, e mesmo
assim pode não ser suficiente. No entanto, a forma como os ingleses bateram os
sauditas do Al Hilal apenas reforçou algumas sensações.
Primeiro, de que o atual campeão
da Champions League não chegou ao Mundial praticando um futebol no melhor nível
que esta equipe já exibiu. Segundo, que o Palmeiras tem o direito de sonhar com
o título. E mesmo levando em conta que, numa decisão, o nível de concentração
dos ingleses deve ser superior ao exibido na semifinal. Após um início de
temporada em que era extremamente seguro, o Chelsea voltou a mostrar
inseguranças sem bola, especialmente quando sua pressão ofensiva era superada.
Cedeu espaços atraentes para um Palmeiras especialista em transições rápidas.
Dudu, Veiga e Rony podem encontrar um terreno convidativo ao jogo de
velocidade.
Contra o Al Hilal, o Chelsea
controlou o primeiro tempo, ocupou bem os espaços no ataque usando toda a
largura do campo e explorando a frágil defesa saudita. No entanto, jamais foi
tão criativo ou rápido em suas manobras. No segundo tempo, já em vantagem,
perdeu boa parte do controle e dependeu das defesas de Kepa para não se ver
obrigado a jogar uma prorrogação. Teve uma queda de ritmo, um declínio físico
assustador para um time que, no último sábado, voltou a campo após quase duas
semanas de recesso na Premier League.
Ainda assim, há mais recursos do
lado europeu da final. E para lidar com isso Abel Ferreira tem decisões a
tomar. Jogos como este rondam a cabeça de treinadores por longos períodos e é
provável que o português já tenha conceitos firmados há algum tempo sobre como
iria lidar com a tão aguardada decisão com o Chelsea, caso o jogo se
concretizasse.
A maior curiosidade é sobre como
este Palmeiras, capaz de mudar de desenho até dentro dos jogos, irá defender
diante do campeão europeu. O Chelsea se organiza para chegar ao ataque com
cinco homens: os três atacantes - na semifinal foram Lukaku, Ziyech e Havertz -
e os dois alas. A ideia é sobrecarregar a defesa rival e usar toda a largura do
campo, buscando isolar os homens que jogam abertos ou espaçar os defensores
adversários. Na final da última Libertadores, contra um Flamengo que também
tentava atacar com cinco homens, Abel Ferreira fez de Scarpa um ala que, sem
bola, defendia bem perto da área, formando uma linha defensiva com cinco
jogadores. É possível que repita o modelo no sábado. Outra hipótese, talvez
remota a esta altura, seria acrescentar um zagueiro especialista e ter um
lateral como Piquerez ou Jorge na função de ala. Na semifinal contra o Al Ahly,
o Palmeiras defendeu com uma linha de quatro homens no primeiro tempo, mas
mudou para uma linha de cinco na etapa final, já em vantagem.
Contra os egípcios, a equipe de
Abel apostou numa pressão ofensiva agressiva. Não é fácil tomar a decisão de
repeti-la na final. O Chelsea é extremamente estruturado para sair de pressões
e tem defensores técnicos, com bom passe, assim como volantes talhados para
iniciar a construção de jogadas: além da capacidade de passe de Jorginho, conta
com a inteligência de Kanté - que não entrou bem na semifinal - e a condução de
bola de Kovacic, homem que iniciou a jogada do gol que classificou os ingleses.
A pressão ofensiva pode render ótimos frutos para o Palmeiras, mas caso seja
superada poderia expor os defensores a um Chelsea que gosta de jogar em
transições velozes. Talvez o Palmeiras vá defender de forma um pouco mais
conservadora do que na semifinal, o que não significa entrar em campo apenas
para resistir. A expectativa é que o time se mostre, que consiga se expressar
numa ocasião tão importante. Tem talentos para isso.
Afinal, chega à sonhada decisão
um Palmeiras habituado a se adaptar sem perder a identidade. Se o rival tem
mais recursos, mais dinheiro e é favorito, o lado brasileiro tem armas que não
devem ser menosprezadas. É possível competir.
Nenhum comentário
Política de moderação de comentários:
A legislação brasileira prevê a possibilidade de se responsabilizar o blogueiro pelo conteúdo do blog, inclusive quanto a comentários; portanto, o autor deste blog reserva a si o direito de não publicar comentários que firam a lei, a ética ou quaisquer outros princípios da boa convivência. Não serão aceitos comentários anônimos ou que envolvam crimes de calúnia, ofensa, falsidade ideológica, multiplicidade de nomes para um mesmo IP ou invasão de privacidade pessoal / familiar a qualquer pessoa. Comentários sobre assuntos que não são tratados aqui também poderão ser suprimidos, bem como comentários com links. Este é um espaço público e coletivo e merece ser mantido limpo para o bem-estar de todos nós.