Por que vacinados ainda podem pegar covid (e não é falha do imunizante)
SAÚDE
Fonte: BBC Foto: GETTY IMAGES
O cantor Caetano Veloso, o
ex-jogador Ronaldo Fenômeno, a apresentadora Maísa, o ator Marcelo Serrado, o
influenciador Casimiro Miguel… Várias personalidades divulgaram que receberam
um diagnóstico positivo para covid-19 nos últimos dias.
A maioria absoluta já estava
vacinada com duas ou três doses da vacina e alguns estão infectados pela
segunda vez.
Os anúncios serviram de
combustível para a criação (ou a reciclagem) de notícias falsas, que acusam os
imunizantes de não funcionarem como o esperado.
Antes de mais nada, é preciso
esclarecer que os dados oficiais e os estudos científicos são bem claros e
oferecem respostas para esse e outros questionamentos. Mesmo com o avanço da
variante ômicron, os imunizantes contra a covid-19 continuam a funcionar para
aquilo que eles foram desenvolvidos: a prevenção de casos mais graves da
doença, que causam hospitalização e morte.
Entenda a seguir como cientistas, médicos e instituições de saúde
seguem confiando no poderio das vacinas testadas e aprovadas em várias partes
do mundo — e como elas estão ajudando a conter a pandemia.
Mesmo diante das informações
sobre o papel principal dos imunizantes, é inegável que a frequência de
reinfecções ou de diagnósticos positivos entre vacinados aumentou nos últimos
tempos. E isso pode ser explicado por três fatores.
O primeiro deles é simples:
acabamos de sair do período de Natal e Réveillon, em que as pessoas se
aglomeram e fazem festas. Isso, por si só, já aumenta o risco de transmissão do
coronavírus.
Segundo, passado praticamente um
ano desde que as doses começaram a ficar disponíveis em algumas partes do mundo
(inclusive no Brasil), os especialistas aprenderam que a imunidade contra a
covid pós-vacinação não dura para sempre.
"Com o passar do tempo,
vimos que o nível de proteção cai. Essa queda vai ser maior ou menor dependendo
do tipo de vacina e da idade de cada indivíduo", explica Kfouri.
"Isso deixou evidente a necessidade da aplicação de uma terceira dose, primeiro para os idosos e imunossuprimidos, depois para toda a população adulta", complementa o médico.
O terceiro fator tem a ver com a
chegada da variante ômicron, que é mais transmissível e tem capacidade de
"driblar" a imunidade obtida com as vacinas ou com um quadro prévio
de covid.
"Diante disso, a infecção em
indivíduos vacinados deve ser vista como algo absolutamente comum e vamos
precisar aprender a conviver com essa situação", acredita Kfouri.
"Felizmente, esse aumento
recente de casos de covid tem se traduzido numa menor taxa de hospitalização e
mortes, especialmente entre indivíduos que já foram vacinados", observa o
diretor da SBIm.
"Ou seja: a vacina continua
protegendo contra as formas mais graves, como esperado", conclui.
Os gráficos do Centro de Controle
e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) mostram claramente esse efeito
das vacinas na prática.
Como você confere abaixo, a
taxa de hospitalizações por covid-19 entre os não vacinados (linha
azul) é muito superior quando comparada aos indivíduos que haviam recebido suas
doses (linha verde) até novembro.
Mas o que aconteceu mais recentemente, a partir de dezembro, com a chegada da variante ômicron? Mais atualizados, os gráficos do sistema de saúde de Nova York, também nos EUA, mostram uma diferença gritante.
A partir do início de dezembro, a
curva de casos, hospitalizações e mortes na cidade sobe vertiginosamente entre
os não vacinados (linha roxa), e se mantém estável, ou com um ligeiro aumento,
entre quem tomou as doses (linha laranja), como você pode conferir nas três
imagens a seguir:
Num relatório recente, a Agência
de Segurança em Saúde do Reino Unido chegou a uma conclusão parecida.
Uma das análises incluída no
artigo foi feita na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, e mostra que,
caso o indivíduo seja infectado com a ômicron, o risco de hospitalização é 81%
menor se ele tiver tomado as três doses do imunizante.
Já uma segunda pesquisa, feita
pela própria agência, demonstra que as três aplicações de vacinas têm uma
efetividade de 88%, embora ainda não se saiba quanto tempo dura essa proteção e
se haverá necessidade de reforços nos próximos meses.
Infelizmente, não existem dados
semelhantes sobre a realidade brasileira — os ataques aos sistemas de
informática do Ministério da Saúde no início de dezembro ainda não foram 100%
resolvidos e impossibilitam o acesso aos números de hospitalizações e mortes
por infecções respiratórias das últimas semanas.
Para Kfouri, todas essas
evidências só reforçam a importância da vacinação num contexto de circulação da
ômicron e aumento de casos.
"É absolutamente errado
pensar que não adianta tomar as doses porque todos vão ficar doentes mesmo
assim. A vacina consegue transformar a covid numa enfermidade mais simples, que
pode ser tratada em casa na maioria das vezes", afirma.
"Só vamos sair da pandemia
com uma alta cobertura vacinal da população, incluindo as crianças, e o
respeito aos cuidados básicos, como o uso de máscaras, a prevenção de
aglomerações e a lavagem das mãos", completa o especialista.
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