Educação| Estudantes se preparam para segundo Enem do ano
Estudantes que fizeram as provas
do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020, aplicadas em janeiro e fevereiro
deste ano, e ainda não conseguiram uma vaga no ensino superior, preparam-se
para fazer o segundo Enem do ano. A menos de um mês para as provas do Enem
2021, marcadas para os dias 21 e 28 de novembro, eles contam que, apesar da
ansiedade, sentem-se um pouco mais preparados para o exame.
O caminho não está sendo fácil. É
a primeira vez que o exame é aplicado duas vezes no mesmo ano, por causa da pandemia
da covid-19. Será também o segundo Enem de Kailane Kelly da Silva Brito, 18
anos de idade, valendo uma vaga no ensino superior. Antes disso, a estudante
participou apenas como treineira, sem o diploma do ensino médio, para testar os
conhecimentos.
“Tem sido bem complicado. O meu
problema, em toda minha preparação, é a questão de ser muito ansiosa. Isso me
atrapalha no momento da prova”, disse, acrescentando que “no Enem 2020, eu
acredito que fui com uma base de conteúdo boa, mas minha ansiedade me
atrapalhou muito. Meu psicológico atrapalhou”.
A estudante de Cocal dos Alves
(PI) buscou, então, tratamentos que a ajudasse a lidar com a ansiedade e
acredita que está mais preparada este ano. “O Enem virou, para mim, uma grande
oportunidade de mudar as coisas, mudar minha vida. É como eu posso ter a
possibilidade de mudar as coisas também para minha família. Virou algo muito
além da prova”.
“Estou tentando de novo para ver
se consigo uma nota mais alta”, disse o estudante que, com o Enem, pretende
cursar ciências da computação. Na reta final, ele usa a internet para estudar e
para refazer provas de anos anteriores do Enem.
Pinheiro está inscrito novamente
na modalidade digital. “A diferença do Enem no papel é que não precisa pintar
as bolinhas [do cartão de respostas], ficou mais fácil. No digital, você apenas
clica na resposta correta”.
Veteranos do Enem
De acordo com dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a porcentagem de estudantes que fazem o Enem mais de uma vez vem caindo ao longo dos anos.
Em 2014, do total de inscritos
confirmados no Enem, 16% estavam fazendo o Enem pela primeira vez, o que
significa que 84% já tinham feito a prova anteriormente. Em 2019, a porcentagem
de novatos subiu para 47%, o que mostra que a porcentagem daqueles que estavam
fazendo as provas pelo menos pela segunda vez caiu para 53%.
Os dados foram divulgados em
outubro de 2019. Na época, o Inep explicou que os números mostram que está
aumentando a participação de novatos. Um dos motivos, segundo a autarquia, é a
mudança nas regras da isenção do pagamento da inscrição, que ocorreu em 2017.
Desde 2018, os participantes precisam justificar a ausência na edição anterior
para estarem aptos a pedir uma nova isenção. Aqueles que não têm a
justificativa aceita, precisam pagar a taxa, que atualmente é R$ 85.
Excepcionalmente em 2021, por
causa da pandemia da covid-19, uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF)
derrubou a necessidade de justificativa. O STF entendeu que a exigência de
comprovação documental para os ausentes viola diversos preceitos fundamentais,
entre eles o do acesso à educação e o de erradicação da pobreza. Além disso, a
obrigação imposta pelo edital penaliza os estudantes que fizeram a “difícil
escolha” de faltar às provas para atender às recomendações das autoridades
sanitárias de evitar aglomerações.
O exame de 2020, realizado em
meio à pandemia, registrou abstenção recorde de participantes. Mais da metade
dos inscritos não compareceu a nenhum dia de prova. Já o Enem de 2021 teve
queda no número total de inscritos em relação a exames anteriores. De acordo
com o Inep, são mais de 3 milhões de inscritos confirmados. Em 2020, foram 5,8
milhões de inscritos.
Foco no Enem
No começo deste ano, Suelen Carvalho, de 23 anos de idade, foi uma das primeiras a chegar à Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), local em que fez o Enem 2020, para evitar aglomerações no transporte público e se proteger da covid-19. A estudante disse na época à Agência Brasil que, apesar de considerar arriscado, foi fazer a prova porque temia não conseguir isenção novamente na edição de 2021.
“A prova para mim representa uma
oportunidade”, disse a estudante do Rio de Janeiro. Suelen disse que conseguiu
se preparar ao longo do ano melhor do que conseguiu em 2020. Ainda assim, foram
muitas as dificuldades. Ela precisou conciliar trabalho e estudo. Ela entra no
trabalho às 8h, e só quando sai começa a estudar para as provas. As aulas vão
até as 22h. Mas só depois desse horário, ela disse que consegue fazer
exercícios para fixar o conteúdo.
A estudante quer cursar medicina.
“Eu estou focando em passar, porque eu sei que só vou ter uma realidade
diferente através da educação. A minha sociedade, o país em que eu vivo, e o
meu lugar como mulher negra e favelada, e eu quero muito uma realidade
diferente disso. Eu quero ter conhecimento, ocupar outros lugares e quero abrir
caminhos para mulheres como eu terem acesso à universidade”, disse.
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