Agência Brasil.© REUTERS / Sergio Moraes/Direitos Reservados
Conscientizar a população sobre
os principais fatores de risco da doença cardiovascular, a que mais mata no
mundo, é o objetivo do Dia Mundial do Coração, celebrado hoje (29). “Mata muito
mais do que câncer, do que acidente automobilístico e do que a covid-19”, disse,
em entrevista à Agência Brasil, o diretor de Comunicação da Sociedade de
Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro (Socerj), Bruno Bandeira. A campanha
visa, principalmente, à conscientização dos bons hábitos de saúde, como uma boa
e equilibrada alimentação, o abandono por completo do tabagismo e a prática de
atividade física regular cinco vezes por semana, durante 30 minutos.
Bruno Bandeira lembrou que a campanha deste ano, organizada pela Federação Mundial do Coração (WHF, a sigla em inglês) destaca a comunicação em suas diversas formas no mundo digital, incentivando a troca de informações entre médico e paciente, as teleconsultas, a inserção digital, para que os pacientes possam cada vez mais saber usar os cuidados por sites bem validados.
O diretor da Socerj lembrou que além dos meios digitais, a comunicação abrange também a relação entre o paciente e seus familiares, o que ficou muito distante ao longo da pandemia de covid-19, gerando muitas doenças psicológicas, ansiedade e, com isso, o agravamento das doenças cardiovasculares. O Dia Mundial do Coração foi criado em 2000 pela WHF para ressaltar a importância do cuidado com o coração, um dos órgãos mais importantes do corpo humano.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças cardiovasculares responderam por 32% de todas as mortes globais ocorridas em 2019, totalizando 17,9 milhões de pessoas, sendo 85% delas de infarto ou derrame. Dados do Cardiômetro, da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), mostram que de janeiro deste ano até as 16h07 de ontem (28), o número de mortes por doenças cardiovasculares no Brasil alcançava 299.304 pessoas.
Melhor caminhoA SBC mostra ainda que, no
Brasil, cerca de 14 milhões de pessoas têm alguma doença cardiovascular e pelo
menos 400 mil morrem anualmente em decorrência dessas enfermidades, o que
corresponde a 30% de todas as mortes no país. O cardiologista Esmeralci
Ferreira, do setor de hemodinâmica do Hospital Pan-Americano, lembrou que “é
muito mais fácil cuidar da saúde do que da doença. Sendo assim, a prevenção de
fatores de risco é o melhor caminho para evitar doenças cardiovasculares”.
Confirmou que manter hábitos saudáveis é fundamental para preservar a saúde do músculo cardíaco. Segundo o médico, os principais cuidados com a saúde do coração estão relacionados a fatores comportamentais e hábitos fáceis de serem incorporados no dia a dia. “Para quem não tem nenhum tipo de doença, o ideal é consultar um cardiologista uma vez por ano. E para quem tem alguma comorbidade, de duas a quatro vezes por ano. Atividades físicas são essenciais e podem ser feitas de maneira prazerosa, como caminhadas ao ar livre, subir e descer escadas em vez de usar o elevador e andar de bicicleta”. Manter uma alimentação saudável, evitar o excesso de álcool e não fumar também melhoram a saúde do coração, recomendou Ferreira.
O especialista citou também outro problema comum na atualidade, que são os altos níveis de estresse. Eles podem estimular problemas cardíacos, porque a aceleração dos batimentos é capaz de aumentar a pressão arterial. A pressão alta, por sua vez, tem impacto no coração, acarretando maior risco de infarto e AVC. “Às vezes, pequenas medidas, como realizar refeições tranquilas, sem estresse e sem fazer uso de celulares e televisões, podem ajudar a preservar a saúde do coração. Coma com prazer e qualidade. Isso faz diferença, inclusive no alívio do estresse”, sugeriu o cardiologista.
Covid-19
Outro tema em destaque no Dia
Mundial do Coração é a covid-19 e seus efeitos na saúde do coração. O
coordenador da Unidade Coronariana da Casa de Saúde São José (Rede Santa
Catarina), Gustavo Gouvêa, chamou atenção para os cuidados com o coração e os
riscos na pandemia.
Ele admitiu que a covid-19 pode afetar diretamente o coração, causando uma inflamação chamada miocardite, decorrente do próprio vírus que gera a doença. Isso pode ocasionar uma arritmia e até manifestações parecidas com um infarto. Gustavo Gouvêa citou estudo feito por um grupo de cardiologistas do Hospital San Raffaele, em Milão, na Itália, considerado referência para complicações cardiovasculares da covid-19. Os médicos avaliaram 138 pacientes internados pela doença, dos quais 16,7% desenvolveram arritmia e 7,2% apresentaram lesão cardíaca aguda.
Gouvêa orientou que os pacientes com covid-19 que tenham sintomas de doenças cardiovasculares, como dor no peito, palpitações e desmaios, devem procurar uma emergência ou um cardiologista para fazer exames específicos, entre eles eletrocardiograma, ecocardiograma e dosagem de enzimas. Alertou que depois da fase aguda da doença, é preciso seguir com o acompanhamento médico para verificar se a inflamação foi revertida e se houve alguma sequela.
O diretor de Comunicação da Socerj, Bruno Bandeira, observou que a miocardite não deve ser motivo de não vacinação. “A pessoa deve se vacinar”.
Pós-covidGustavo Gouvêa informou que 85%
dos casos dos pacientes com covid-19 são leves, de pessoas tratadas em casa e
sem gravidade. Para esse grupo, após o período de 10 a 14 dias, é possível
retomar a rotina, inclusive as atividades físicas. Para os 15% que tiveram um
quadro clínico mais grave, com hospitalização, é preciso fazer uma avaliação
clínica ou cardiológica para garantir que não há nenhuma sequela, especialmente
para retomar exercícios físicos.
Segundo o especialista, uma parcela desses pacientes vai precisar passar por uma reabilitação cardíaca para voltar a praticar exercícios, com supervisão. “Muitos perderam massa muscular, pois ficaram dias acamados. Para retomar as atividades, devem passar por um programa específico para recuperar, lentamente, sua saúde e o vigor físico".
Crianças
Números da Federação Mundial do
Coração mostram a existência de 155 milhões de crianças obesas e acima do peso
no planeta. A estimativa é que elas têm 80% a mais de chance de ter sobrepeso
quando adultas e, em consequência, maior risco de enfermidades cardíacas e
acidentes vasculares cerebrais (AVC). Crianças e jovens com sobrepeso têm três
a cinco vezes mais chances de sofrer um infarto ou AVC antes de chegarem aos 65
anos de idade, além de grande risco de desenvolver diabetes.
A nutricionista Fabiana Peleteiro advertiu que “o sobrepeso na infância acaba gerando um acúmulo maior de gordura nas artérias ao longo dos anos, o que aumenta as chances de infarto e AVC”. Por isso, afirmou que a prevenção primária das doenças cardiovasculares deve começar na infância e estar relacionada diretamente à mudança de hábitos alimentares e de estilo de vida.
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