G1
O presidente Jair Bolsonaro
assinou nesta quarta-feira (1º) uma medida provisória que suspende a
obrigatoriedade de escolas e universidades cumprirem a quantidade mínima de
dias letivos neste ano. No entanto, ele manteve a obrigatoriedade da carga
horária mínima.
A redução da carga horária vem
após a suspensão de aulas para tentar frear a transmissão do novo coronavírus,
em meio à pandemia de Covid-19.
Na prática, as instituições de
ensino vão ter que cumprir as horas de aula em uma quantidade menor de dias
letivos. A medida provisória não traz especificações sobre como isso deverá
ocorrer. Conselhos estaduais e municipais de educação, ao lado de pais e
professores, deverão regulamentar as alternativas, de acordo com a realidade
local.
"Não há uma solução única
que sirva para todas as escolas, todas as redes e todas as etapas de educação
básica", afirma João Marcelo Borges, diretor de estratégia política no
Todos Pela Educação. Ele cita exemplos de redes estaduais que já estão adotando
medidas para transmitir o conteúdo aos estudantes, como vídeo-aulas na TV
aberta. "Este período sem aulas presenciais será de soluções múltiplas
para mitigar os efeitos da suspensão e assegurar a manutenção de vínculo entre
alunos e escolas. O Brasil não pode correr o risco de perder alunos devido à
evasão escolar", afirma.
Atualmente, a legislação
determina que a carga horária anual deve ser de pelo menos 800 horas para os
ensinos fundamental e médio, distribuídas em pelo menos 200 dias letivos. No
caso do ensino superior, o ano letivo mínimo também é de 200 dias.
Uma portaria do Ministério da
Educação (MEC), publicada em 2019, já permitia que 40% da carga horária de
aulas presenciais no ensino superior poderia ser convertida em educação a
distância (EAD).
"A medida já era prevista,
porque já há uma portaria permitindo aulas a distância devido à pandemia,
porque já começa a ter um comprometimento de dias letivos. No ensino superior,
40% do conteúdo já era permitido ser em EAD", diz Rodrigo Capelato,
diretor executivo do Semesp, entidade que representa as mantenedoras de ensino
superior.
Educação em saúde
A medida provisória publicada
nesta quarta-feira traz especificações para as aulas em medicina, farmácia,
enfermagem e fisioterapia. Os dias letivos poderão ser reduzidos, desde que
cumpram:
- 75% da carga horária do internato do curso de medicina
- 75% da carga horária do estágio curricular obrigatório dos cursos de enfermagem, farmácia e fisioterapia
Desafios de ensino e aprendizagem
A situação atual fará com que
conselhos e secretarias de educação tenham que definir meios de implementar o
ensino em um tempo menor, de acordo com Daniel Cara, professor da Faculdade de
Educação da Universidade de São Paulo (USP) e membro da Campanha Nacional pelo
Direito à Educação.
No ensino a distância (EAD) por
computador, é preciso superar o desafio do acesso à internet de qualidade e da
autonomia de estudantes, principalmente dos mais novos, em aprenderem sozinhos.
Na extensão dos horários de aula,
Cara argumenta que haverá o desafio da disponibilidade de salas, já que já
limitação de espaço físico.
Em relação à atividades
complementares, professores, pais e pedagogos terão que desenvolver formas para
evitar que as aulas se transformem em simples lições de casa.
"É difícil prever quando o
isolamento social vai acabar. O Brasil precisa compreender que, embora não seja
uma situação de guerra tradicional, estamos em guerra pela vida. Vamos precisar
construir compromissos de aprendizagem que sejam factíveis com o país pós-pandemia,
que não sabemos se vai até maio, junho julho, ou se será estendido até
setembro. Neste caso, mesmo se usarmos feriados e finais de semana, haverá
pouco tempo para cumprir a carga horária", afirma Cara.
"A situação poderá
normatizar a educação a distância, mas isso pode aumentar ainda mais a
desigualdade de ensino: famílias mais escolarizadas e preparadas poderão dar
apoio aos estudantes, mas as menos escolarizadas, não. Comunidades ribeirinhas,
por exemplo, não terão como fazer a educação a distância com instrumentos
tecnológicos. A tendência é que se precarize e, nestes casos, vire só lição de
casa", avalia.
Universidades suspendem aulas
virtuais
Antes da medida provisória, ao
menos três universidades federais do país já haviam suspendido as aulas
virtuais – uma delas, a Universidade de Brasília (UnB) suspendeu o semestre
letivo inteiro. O objetivo é manter a qualidade do ensino, alegando que nem
todos os alunos têm acesso à internet.
A Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ) só permite uso de ferramentas digitais neste período de pandemia
para as turmas que já faziam uso desta tecnologia anteriormente. Segundo a
instituição, nem todos os professores e alunos dispõem de tecnologia e acesso à
internet de para implementar a substituição. A universidade também afirma que
pessoas com deficiência (PCDs) precisam de recursos que ainda não podem ser
oferecidos na EAD.
Na Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG), a situação se repete. Um ofício de 20 de março afirma que a
"heterogeneidade do corpo discente da UFMG não permite garantir que todos
terão acesso frequente e estável aos recursos computacionais necessários para
acompanhamento das atividades."
Na UnB, onde foi suspendo o
primeiro semestre letivo de 2020, aulas e as avaliações estão paralisadas,
mesmo que virtuais. O conteúdo será reposto quando a situação da pandemia
melhorar. Ainda não há previsão de retorno das aulas.
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