Brasil| ONU alerta para poluição das águas por abuso de agrotóxicos no campo
Com informações da Revista Exame
Ao alimentar o mundo e produzir
uma imensa variedade de culturas, a agricultura responde por nada menos do que
70% do consumo mundial de água. Mas, ao mesmo tempo que depende desse recurso
vital, a atividade também contribui para sua degradação.
A poluição hídrica causada por
práticas agrícolas insustentáveis, marcadas pelo abuso de agrotóxicos,
fertilizantes e outros produtos agroquímicos que escoam para rios, lagos e
reservas subterrâneas, é um problema crescente em todo o mundo e frequentemente
subestimado por formuladores de políticas e agricultores.
O alerta vem de um relatório da
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e do
Instituto Internacional de Gestão da Água divulgado na mesma semana em que uma
comissão especial da Câmara aprovou o projeto que flexibiliza a Lei dos
Agrotóxicos no Brasil, chamado por opositores de “PL do veneno”.
A publicação da FAO, intitulada
“Mais pessoas, mais alimentos, água pior?” faz uma revisão da poluição hídrica
causada por atividades agrícolas no mundo e exorta os governos a terem mais
cautela no campo.
A agricultura moderna é
responsável pela descarga de grandes quantidades de agrotóxicos, matéria
orgânica e sedimentos em corpos hídricos. Essa poluição afeta bilhões de
pessoas e gera custos anuais da ordem de bilhões de dólares, diz o estudo.
“A agricultura é o maior produtor
de águas residuais, por volume, e o gado gera muito mais excrementos que os
humanos. À medida que se intensificou o uso da terra, os países aumentaram
enormemente o uso de pesticidas sintéticos, fertilizantes e outros insumos”,
disseram Eduardo Mansur, diretor da divisão de terras e águas da FAO, e Claudia
Sadoff, diretora-geral do instituto, na introdução do relatório.
“Apesar desses insumos terem
ajudado a impulsionar a produção de alimentos, também deram lugar a ameaças
ambientais, assim como a possíveis problemas de saúde humana.”
Os produtos de uso agrícola de
maior preocupação são os pesticidas, nitratos em águas subterrâneas, vestígios
de metais pesados e os chamados poluentes emergentes, que incluem antibióticos
e genes resistentes a esses fármacos excretados pelo gado.
Segundo o estudo, desde 1960, o
uso de fertilizantes sintéticos cresceu dez vezes, com as vendas globais de
pesticidas aumentando de US$ 1 bilhão para US$ 35 bilhões por ano desde 1970.
Enquanto isso, a intensificação
da produção pecuária, que triplicou a partir de então, trouxe a reboque
antibióticos, vacinas e hormônios para crescimento que viajam das fazendas
através da água.
Outro setor em expansão que
demanda atenção, segundo o relatório, é a aquicultura — que se expandiu vinte
vezes desde 1980 — e vem liberando quantidades cada vez maiores de excrementos
de peixe, resíduos de ração, antibióticos e fungicidas na água.
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