Economia| Guerra comercial entre EUA e China abre espaço para soja brasileira
A guerra comercial entre China e EUA ganhou mais um capítulo, na quarta-feira, 4, com o governo chinês impondo novas tarifas contra produtos americanos. Em resposta ao protecionismo de Donald Trump, a China elevou as tarifas sobre a soja produzida nos EUA, abrindo mais espaço para outros países produtores, principalmente o Brasil.
A China é o maior importador mundial de soja. No ano passado, comprou 95,5 milhões de toneladas - aproximadamente US$ 40 bilhões. Cerca de 30% da soja cultivada nos EUA é exportada para a China, onde o grão é transformado em óleo e a sobra de farelo de soja é usada como ração para suínos, frangos, gado e peixes.
Com a nova tarifa de 25%, a previsão do Ministério do Comércio da China é de que esse mercado seja ainda mais ocupado pelo produto brasileiro - que já tem uma participação relevante no país asiático. Em 2012, o País superou os americanos e passou a ser o maior exportador do produto para o mercado chinês. Em 2017, as vendas brasileiras atingiram um recorde para a China, com o embarque de 53,7 milhões de toneladas. Isso representou quase 55% das importações de Pequim. Os americanos exportaram 33 milhões de toneladas, 34% do mercado chinês e o menor volume desde 2006.
A decisão da China coincide com o momento em que o Brasil está em plena colheita de uma safra recorde, diz o analista Aedson Pereira, da consultoria IEG FNP. "Já se acreditava que a exportação do Brasil seria recorde, porque a produção foi muito boa, mas a China vai potencializar isso." Ele pondera, no entanto, que o País não tem como substituir as cerca de 30 milhões de toneladas que seriam adquiridas dos EUA. O Brasil não tem esse volume adicional e a Argentina tem problemas com sua safra neste ano. "A China não tem a quem recorrer. Pode ser um tiro no pé."
A retaliação já teve reflexos no preço internacional da soja. Nessa quarta-feira, na Bolsa de Chicago, o valor dos contratos de maio caiu 2,19%. Ao mesmo tempo, os investidores elevaram o prêmio pago pela soja brasileira em relação ao preço internacional. Essa diferença ficou em torno de US$ 1,20 por bushel ontem. Há duas semanas, era de US$ 0,56 por bushel.
"Há semanas, os chineses vêm pagando um prêmio pela soja brasileira", disse o sócio da consultoria MD Commodities, Pedro Dejneka. Segundo ele, a China já estava reforçando suas compras de soja do Brasil - sinal de que o país asiático vinha retaliando a soja americana de forma "indireta".
Críticas
Diante das medidas anunciadas na quarta-feira, os produtores americanos não economizaram críticas ao governo Trump. Em um comunicado, a Associação Americana de Soja pediu que a Casa Branca "reconsidere" as tarifas aplicadas sobre a China. "Centenas de milhares de pessoas no campo serão afetadas. O impacto será devastador", disse John Heisdorffer, presidente da entidade.
A decisão chinesa é uma resposta à iniciativa da Casa Branca de impor barreiras à China sob alegação de violação de propriedade intelectual. Trump prometeu sobretaxar 1,3 mil produtos avaliados em US$ 50 bilhões. Em troca, o governo de Pequim anunciou que adotará novas tarifas para 106 produtos dos EUA. Além da soja, estão na lista algodão, carnes bovina e suína.
No curto prazo, segundo o presidente da Aliança Agro Brasil-Ásia, Marcos Jank, o Brasil pode se beneficiar com a retaliação, mas num prazo mais longo pode sair prejudicado. "No curtíssimo prazo claramente há oportunidade para aumentar os embarques de alguns produtos brasileiros, mas o que a China está fazendo é retaliar para negociar e, em uma negociação com os EUA, ela pode adotar medidas que beneficiem os americanos e prejudiquem o Brasil", disse ao Broadcast Agro. A Aliança Agro promove o agronegócio brasileiro na Ásia.
Embora haja potencial para ganhos de curto prazo, a batalha comercial entre EUA e China é vista pelo governo brasileiro como algo prejudicial a todos os envolvidos. A aplicação unilateral de sobretaxas, como fazem as duas potências, enfraquece um sistema de comércio internacional que vem sendo estruturado desde a Segunda Guerra, aumenta a insegurança jurídica e converte o mercado mundial em um espaço onde prevalece a lei do mais forte, segundo avaliou fonte do Executivo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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