Educação| Reforma do ensino médio põe educação na pauta do Congresso
O encaminhamento da reforma do
ensino médio via MP (Medida Provisória) foi uma necessidade para que o assunto
entrasse na pauta no Congresso. A afirmação é de Rossieli Soares da Silva,
secretário da educação básica do MEC, durante o seminário Inovação Educativa.
Lançada em setembro pelo governo
federal, a maior mudança já feita no marco legal da educação nacional desde a
LDB (Lei de Diretrizes e Bases), de 1996, gerou debates acalorados em todo o
país. A polêmica principal é a sua implementação via MP -uma tentativa de
acelerar a tramitação da mudança (as MPs têm de ser aprovadas pelo Congresso em
até 120 dias).
"Como se consegue colocar a
educação em debate em meio a uma agenda competitiva do Congresso?", diz o
secretário. "A MP não acaba em si, ela está sendo discutida." Soares
da Silva participou do debate sobre inovação na reforma do ensino médio nesta
terça-feira (22), mediado pelo jornalista Paulo Saldaña.
A proposta prevê a flexibilização
curricular, a transição para um sistema de tempo integral e a alternativa de
profissionalização (ensino técnico) para os estudantes. Hoje, o ensino médio no
país é composto por 13 disciplinas, como física, português e matemática -número
considerado um exagero por especialistas de educação.
"A gente concorda que a
reforma do ensino médio seja urgente", diz Tábata Amaral, da iniciativa
Mapa da Educação. O ponto de divergência, diz, é a maneira como a proposta está
sendo conduzida.
Egressa de escola pública de São
Paulo e formada em política e em astrofísica em Harvard (EUA), Tábata defendeu
que o governo busque ativamente ouvir a sociedade sobre a proposta da reforma.
"Se isso não acontecer, quem tem voz fraca não vai falar."
De acordo com Maria Alice Setubal
(Fundação Tide Setubal), a reforma não é inovadora, por causa da forma como
está sendo conduzida. Ela defendeu que as escolas, por exemplo, organizem
"eventos" para que alunos e pais sejam ouvidos sobre a proposta.
"Isso tem custo zero."
TRILHAS INDIVIDUAIS
Maria Alice destacou ainda que
quase 1 em cada 8 alunos do ensino médio estudam em municípios com menos de 20
mil habitantes. "Como os municípios pobres poderão se articular para
implementar a reforma?".
Uma das preocupações dos
especialistas é que a possibilidade de flexibilização dos estudos, como propõe
a reforma, cause uma tendência à escolha de humanas porque há dificuldade de
exatas e porque faltam laboratórios e professores.
Para Americo Mattar, da Fundação
Telefônica Vivo, a tecnologia pode contribuir para a melhora da qualidade na
educação especificamente nas exatas -inclusive no ensino médio. "Por meio
de robótica, por exemplo, é possível aprender matemática."
De acordo com estudo Juventude
Conectada, apresentado por Mattar no evento, por exemplo, 92% dos jovens
consultados afirmam que a internet possibilita maior capacidade de pesquisa e
de estudos. "O professor tem um papel relevante de ajudar no senso crítico
desse trabalho", diz.
A reforma do ensino médio é um
dos pontos nevrálgicos da educação brasileira porque a etapa concentra os
piores resultados. O país tem, hoje, 1,7 milhão de adolescentes entre 15 e 17
anos fora da escola.
O seminário Inovação Educativa,
realizado pela Folha de S.Paulo em parceria com a Fundação Telefônica Vivo,
segue na quarta-feira (23). O evento será realizado a partir das 9h no teatro
Tucarena, na rua Monte Alegre, 1.024, Perdizes, em São Paulo. Com informações
da Folhapress.
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