Brasil| Rendimento real do trabalhador cai pela primeira vez em 11 anos
Pela
primeira vez em 11 anos, houve queda nos rendimentos reais do trabalhador
brasileiro. A renda média passou de R$ 1.950, em 2014, para R$ 1.853, em 2015,
o que representa uma redução de 5%. Com queda nos salários dos mais pobres e
também dos mais ricos, o índice que mede a desigualdade foi o menor da série
histórica.
As
famílias brasileiras encerraram 2015 com uma renda menor do que no ano
anterior. A renda média mensal
domiciliar caiu 7,5% no ano passado, para R$ 3.186, exatos R$ 257 a menos do
que o valor registrado em 2014.
Os
dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), divulgada
nesta sexta-feira (25) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). Os valores foram deflacionados, ou seja, foi considerado o impacto da
inflação do período sobre os rendimentos.
“A
queda da renda das famílias foi ainda maior do que no rendimento da população
ocupada, porque são consideradas pessoas desocupadas dentro daquela família
que, agora, não contribuem com o rendimento para compor a renda dessa família”,
explicou a gerente da pesquisa, Maria Lúcia Vieira.
No
mesmo período, o número de desempregados cresceu 38%, para 10 milhões de
pessoas, segundo o IBGE.
Arte
sobre queda na renda do trabalhador (Foto: Arte/G1)
Mas,
mesmo para quem estava empregado ou trabalhando por conta própria, os ganhos
foram menores. O rendimento médio do trabalhador foi de R$ 1.853 em 2015, 5% a
menos do que em 2014 e uma redução de exatos R$ 97 (descontada a inflação).
A
perda de rendimentos ocorreu em todas as regiões do Brasil e em 22 das 27 unidades
da federação. As exceções foram Rio Grande do Norte, Paraíba, Tocantins,
Roraima e no Paraná. Veja abaixo o rendimento médio mensal do trabalhador por
região e sua variação no ano:
Norte:
R$ 1.453 (-7,2%)
Nordeste:
R$ 1.223 (-5,6%)
Sudeste:
R$ 2.117 (-5,4%)
Centro-Oeste:
R$ 2.284 (-3,5%)
Sul:
R$ 2.079 (-3,3%)
Renda
das mulheres segue menor
A
PNAD mostrou ainda que, em 2015, as mulheres seguiam recebendo salários menores
que os homens. Enquanto a média do rendimento real deles foi de R$ 2.058, o
delas foi de R$ 1.567. Ou seja, as mulheres recebem, proporcionalmente, em
média 76,1% do salário dos homens. Apesar disso, houve um aumento de 1,6 ponto
percentual em relação a 2014, quando a proporção foi de 74,5%.
O
único estado em que as mulheres recebiam mais que os homens foi Roraima. Lá, em
média, elas receberam R$ 1.788, valor 0,8% maior que o rendimento médio deles.
As
menores proporções de diferença foram registradas em Alagoas (96,8%) e no
Amapá, onde os rendimentos delas foram, respectivamente, de R$ 1.125 e R$
1.605.
Já
no Mato Grosso do Sul, o rendimento de trabalho das mulheres (R$ 1.600)
representou 67,3% do rendimento dos homens (R$ 2.379).
No
Rio de Janeiro, Distrito Federal, Rio Grande do Sul, São Paulo, Mato Grosso,
Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Goiás e Mato Grosso do Sul, os
rendimentos das mulheres alcançaram cerca de três quartos ou menos do valor do
rendimento dos homens.
Autônomo
perdeu mais
Todas
as categorias de trabalho registraram queda no rendimento médio em 2015,
segundo o IBGE. A maior redução foi observada nos chamados trabalhadores por
conta própria, categoria que engloba profissionais autônomos formais e
informais. Esses profissionais tiveram queda de 9,1% na sua renda média, de R$
1.632 para R$ 1.484.
O
menor rendimento médio para esta categoria foi observado na região Nordeste (R$
841), e a maior na região Sul (R$ 1.970).
Os
trabalhadores domésticos com carteira de trabalho assinada declararam
rendimentos, em média, 3,1% menores que em 2014 (de R$ 1.049 para R$ 1. 016).
Para os sem carteira de trabalho assinada, a redução foi de 1,2% (de R$ 655
para R$ 647).
Para
militares e estatutários o decréscimo foi de 1,7% (de R$ 3.243 para R$ 3.188).
As
pessoas que respondiam pelos 10% mais pobres perderam mais do que as pessoas
que recebiam os 10% dos rendimentos mais elevados"Maria
Lúcia Vieira, gerente da PNAD
Ricos
e pobres perderam
Ao
separar os trabalhadores em faixas por décimos de rendimento, ou seja, dos 10%
que recebiam menos aos 10% que recebiam mais, aqueles que tinham os menores
salários responderam por 1,4% do total de rendimentos pagos no país. Já os que
tinham os maiores salários concentraram 39,9%.
A
média de rendimento para o décimo que recebia menos foi de R$ 261 – 7,1% a
menos do que o verificado em 2014. Já para o décimo que recebia mais, a média
foi de R$ 7.402, 5,9% a menos que no ano anterior. Por conta deste resultado
(quem recebia mais perdeu acima do que quem recebia menos em valores líquidos),
houve redução do índice de Gini, que mede a distribuição da renda e indica a
desigualdade econômica.
Porém,
segundo a gerente da pesquisa, Maria Lúcia Vieira, este dado não merece
comemoração, já que nivelou por baixo. “Se a gente considerar o topo e a base
da distribuição de rendimentos, as pessoas que respondiam pelos 10% mais pobres
perderam mais do que as pessoas que recebiam os 10% dos rendimentos mais
elevados”, explicou, enfatizando que “a queda da desigualdade só é boa quando
beneficia todo mundo”.
Maria
Lúcia ressaltou que o índice de Gini já vinha apresentando tendência de redução
desde o início da PNAD, em 2004. Em 2015, ele foi o menor da série histórica
(0,485). Há 12 anos, ele estava em 0,545. Segundo a pesquisadora, a tendência
de queda pode ser explicada “porque deixa todo mundo, de alguma forma, numa
situação de rendimentos menores”.
G1
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