Política| Ministro diz que 'é preciso ter medo da caneta do juiz'
O
ministro da Transparência, Fiscalização e Controle (Controladoria-Geral da
União), Torquato Jardim, faz um alerta. Para enfrentar a corrupção é necessário
que haja "medo da caneta do juiz, do Ministério Público e da investigação
administrativa". Ele esteve em São Paulo na sexta-feira, 21, e falou sobre
"Perspectivas do Marco Legal de Contratações Públicas no Brasil" na
reunião-almoço mensal do Instituto dos Advogados de São Paulo (IASP).
Segundo
o ministro, em 240 operações especiais sobre desvios de recursos federais em
municípios, nos últimos 13 anos, a Transparência, a Polícia Federal e o
Ministério Público Federal identificaram que em 67% das ações houve desvio de
merenda escolar, de medicamentos e saneamento básico.
"Por
que isso acontece? Porque a sanção legal não amedronta. É a velha história de
acreditar na impunidade", afirma. "É preciso ter medo da caneta do
juiz, é preciso ter medo da caneta do Ministério Público, é preciso ter medo da
caneta da investigação administrativa."
Torquato
Jardim foi taxativo. "Dois terços são desviados de crianças. Nessa altura
são três gerações de crianças que não têm alimentação, medicamento e saneamento
básico ao seu alcance, porque há desvio de verba federal. Qual é a sanção? A
Polícia Federal completa a investigação. O Ministério Público, com seus limites
humanos, propõe as ações. Qual é a consequência?"
Durante
sua palestra, o ministro citou "um município no interior da Paraíba",
onde "quatro gerações da família foram autuadas em momentos diferentes da sua
administração e continuaram praticando".
"Em
determinado município da Paraíba foram presos e autuados a avó, a mãe, o pai e
o padrasto de um deputado federal no mesmo município, em sucessivas
administrações públicas", ele relatou a uma plateia eminentemente de
advogados e juristas. "Porque ninguém tem medo da sanção legal. Este é o
desafio da autoridade pública em qualquer plano, União, Estados e municípios,
para conter a corrupção, o desvio de verbas públicas", observou.
O
ministro não disse o nome do parlamentar. Ao menos cinco integrantes da família
do deputado Hugo Motta (PMDB) são investigados na Operação Desumanidade, no
município de Patos (PB).
Ex-presidente
da CPI da Petrobras, Hugo Motta teve sua mãe, Ilanna Motta, presa em outra
investigação, a Veiculação. Na mesma investigação, sua avó, Chica Motta, foi
afastada do cargo de prefeita de Patos. O cunhado de Motta, José Willian
Segundo Madruga, e o atual marido de sua mãe, Renê Caroca, também foram presos
pela Polícia Federal.
Nabor
Wanderley, pai de Motta, é apontado como líder do grupo criminoso e seria
destinatário de 10% do valor dos contratos, segundo proposta de delação
premiada dos proprietários da Soconstrói.
Torquato
Jardim sugere "uma sanção social". "A sanção legal claramente
não tem sido suficiente. Por mais que se aparelhe a Polícia Federal, o
Ministério Público e a Transparência/CGU não é suficiente para causar temor
para o corrupto", admitiu. "Nós temos que encontrar outro tipo de
sanção, a sanção social, de alguma forma essa pessoa ser excluída do ambiente
social. Uma coisa é o bulliyng da política em função da Operação Lava Jato.
Isso passa. Outra coisa completamente diferente é a sanção social no ambiente
do bairro, da cidade. Esses dois terços são municípios pobres, de Estados
pobres, comunidades pequenas. Lá tem que começar uma reação social, tem de
haver indignação."
Do NoticiasAoMinuto
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