Pesquisa| Uso de crack é consequência e não causa de exclusão social
Ao
contrário do que o senso comum acredita, o crack não causa exclusão social.
Pelo contrário, segundo especialistas, o uso da droga é consequência de uma
vida precária que leva à dependência e faz com que muitos sejam encontrados em
situação de pobreza extrema, usando a droga nas ruas de cidades brasileiras,
vulneráveis a riscos, como homicídios. A constatação é de Pesquisa da Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgada hoje (21), no Rio de Janeiro.
Depois
de analisar cerca de 200 entrevistas com usuários e profissionais de saúde
mental, o levantamento mostra que o uso da droga apenas piora a situação de
pessoas que não tem laços familiares, moradia, trabalho e estudo - problemas
que chegaram antes da dependência.
Rio
de Janeiro - O pesquisador Roberto Dutra Torres durante seminário Crack e
exclusão social, na Fiocruz, em Manguinhos (Tomaz Silva/Agência Brasil)Tomaz
Silva/Agência Brasil
"O
crack não é a causa da exclusão, é um elemento a mais, que reforça a exclusão
social, processo que é anterior [à droga], no entanto, é reversível”, afirmou
um dos autores da pesquisa, Roberto Dutra Torres, professor da Universidade
Estadual do Norte Fluminense (UENF), ao divulgar os resultados, na Fiocruz.
“Ninguém vira zumbi pelo crack”, reforçou.
Segundo
ele, reverter a dependência é possível por meio de políticas públicas sociais,
de saúde e de reintegração na comunidade e nas próprias famílias. Como exemplo,
citou o programa da prefeitura de São Paulo, De Braços Abertos, que tirou
usuários das ruas do centro, oferecendo moradia em hotéis próximos e empregos
como gari, pagando salário e oferecendo tratamento.
As
análises divulgadas hoje são um desdobramento da Pesquisa Nacional sobre o
Crack, encomendada em 2014 pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas
(Senad), que traçou um perfil dos usuários da droga. O estudo identificou que
compõem menos de 1% da população –bem menos do que dependentes de álcool–
chamando atenção para o “pânico social” criado em torno do crack. A situação
gerou estigma e afastou usuários da cidadania, diz o texto.
Apoio aos usuários
O
psiquiatra Leon Garcia, ex-diretor de Articulação e Projetos da Senad, lembrou
que, nos questionários, quando perguntados sobre o que precisavam para largar a
droga, as respostas dos usuários eram claras: um local para morar, para tomar
banho, para comer, trabalho e tratamento. “A gente precisa atender a essas
necessidades. Não podemos achar que a internação é uma solução para todos”,
afirmou. Na psiquiatria, lembrou, a necessidade de internação é uma exceção e o
desafio é manter pessoas longe das drogas no cotidiano de cada uma.
Rio
de Janeiro - O ex-diretor da Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas,
Leon Garcia, durante seminário Crack e exclusão social, na Fiocruz, em
Manguinhos (Tomaz Silva/Agência Brasil)Tomaz Silva/Agência Brasil
“Para
conseguir isso [que pessoas se afastem do crack], se eu estou morando em um
lugar onde eu consigo dormir à noite, em vez de estar na calçada, talvez, isso
me faça usar menos drogas, como mostram análises sobre o programa de São Paulo,
no qual o consumo individual caiu 60%”", acrescentou o especialista, que
participou da divulgação do estudo hoje no Rio.
Antes,
na capital paulista, usuários moravam em barracas, fumando pedras nas ruas,
como ocorre bem perto da Fiocruz, com dependentes morando às margens da Avenida
Brasil.
Dados
já divulgados mostram ainda que a maioria dos usuários de crack são homens
negros, de até 30 anos, sendo que 40% vive nas ruas e são mais suscetíveis a
homicídios do que o restante da população. Eles também são mais vítimas de
violência sexual do que a média.
As
entrevistas da Fiocruz foram realizadas na região metropolitana de Porto
Alegre, Rio de Janeiro, Fortaleza, Recife, Salvador e Campos Goytacazes, no
norte-fluminense.
Do NoticiaAoMinuto
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