Economia| Plano de Demissão Voluntária oferece riscos em tempo de crise
Diante
de um cenário de crise econômica e a consequente redução da demanda e elevação
dos custos, grandes empresas, como Petrobras e Embraer, ofereceram a seus funcionários Planos de
Demissão Voluntária (PDV), como forma de reduzir despesas e ganhar fôlego para
atravessar o momento de turbulência.
Se
para as companhias a medida é uma alternativa de desafogo, especialistas
avaliam que, para os empregados, a adesão a um PDV pode ser um caminho
perigoso, se não forem observados, cuidadosamente, os prós e contras.
Em
meio à principal crise da sua história, a Petrobras , por exemplo, abriu um
Programa de Incentivo à Demissão Voluntária (PIDV), este ano, com a perspectiva
de adesão superior a 7 mil funcionários. Para o professor da Faculdade de
Economia da Universidade de São Paulo (USP) Fernando Botelho, antes de deixar o
emprego, o trabalhador deve calcular as chances de reinserção no mercado de
trabalho.
“Basicamente,
a pessoa tem que olhar o que ela pode fazer fora. Estamos em um momento de
crise e, em geral, quem acaba entrando nos PDVs são as pessoas mais
empreendedoras, mais dispostas a assumir riscos. Mas há um risco muito grande
de a pessoa entrar no PDV e, mesmo depois de passar muito tempo [após o desligamento],
ela não conseguir encontrar uma ocupação”, alerta Botelho.
"É
trocar o certo pelo duvidoso”, acrescenta o professor da Faculdade de
Administração da Universidade de Brasília (UnB) Jorge Pinho. “Uma coisa é
trabalhar 20 anos debaixo de um guarda-chuva e outra coisa é ir se expor ao
sol. Não é porque você tem grande experiência em uma empresa que vai conseguir
se realocar com facilidade”, diz Pinho.
Se
para uns o PDV pode ser o começo de um calvário, para outros pode ser grande
oportunidade. “Dependendo das condições, pode ser uma boa escolha. A pessoa sai
da empresa com um bom dinheiro, pode abrir o próprio negócio e complementar a
renda da aposentadoria, por exemplo”, destaca o economista da USP.
Mas
se o acerto financeiro pode seduzir, o economista alerta para os riscos. “As
pessoas têm que tomar cuidado porque muitas vezes elas não têm maturidade para
administrar uma grande quantidade de dinheiro. Alguns vão sair com indenizações
grandes, acima de R$ 500 mil. Esse dinheiro tem que ser administrado com muita
parcimônia. Não pode sair comprando carro, gastando com supérfluos ou
empreendimentos muito arriscados”, alerta.
“As
grandes corporações capitalistas ganham muito dinheiro com carteiras de ações,
investimento. As pessoas, normalmente, não têm condições de comandar uma
carteira de ações. Portanto, é importante que busquem uma nova fonte de renda”,
acrescenta o professor de administração da UnB.
Na
avaliação dos especialistas, não são apenas os trabalhadores que devem calcular
bem as expectativas acerca dos PDVs. “Do ponto de vista da empresa,
principalmente para aquelas que abrem o plano de demissão voluntária para todo
mundo, ocorre um problema que a gente chama de seleção adversa”, explica
Botelho. “Acaba-se estimulando a sair os melhores empregados. Aqueles que se
recolocam mais fácil, têm mais mercado, esses são os que aderem primeiro ao PDV
nesse modelo. A empresa acaba ficando com um corpo de funcionários um pouco
pior, de qualidade média”. O economista pondera, contudo, que no atual cenário
de crise, ainda que ficando “com os piores”, o enxugamento do quadro pode ser
que seja melhor do que manter todos. “Estamos em uma crise muito grande”.
O
professor da UnB reforça que, se a perda de bons quadros pode ser prejudicial,
a manutenção da máquina inchada pode comprometer ainda mais a saúde financeira
das companhias. “Alguns funcionários com muito tempo de casa custam muito caro.
As empresas podem substituí-los por profissionais mais baratos e, ao longo do
tempo, isso pode produzir economia”, avalia Pinho.
Do Noticiasaominuto
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