Brasil| Temer: de "vice decorativo" a 37º presidente do Brasil
Michel
Temer (PMDB) se torna nesta quarta-feira o 37º presidente da República da
história do Brasil. Ele foi empossado indiretamente após o impeachment de Dilma
Rousseff (PT), de quem era vice-presidente.
Com
35 anos na política, o discreto peemedebista participou de momentos importantes
da agenda pública, mas sempre nos bastidores. Neste ano, quando rompeu com
Dilma e se declarou um “vice decorativo”, marcou o processo de derrocada da
presidente e ficou sob os holofotes de uma das maiores crises políticas que o
país já enfrentou.
Pelos
últimso quatro meses, Temer ocupou a Presidência interinamente enquanto Dilma
era julgada no Congresso - o professor e advogado paulista foi o oitavo
vice-presidente a ocupar o cargo no país. Além disso, ele segue a tradição de
seu partido, o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), de eleger
apenas presidentes de forma indireta.
O
primeiro deles foi Tancredo Neves, em 1985, eleito após o fim da Ditadura, mas
que adoeceu e morreu antes de tomar posse. Naquele ano, o também peemedebista
José Sarney assumiu. No primeiro impeachment desde as Diretas Já, quando
Fernando Collor foi retirado, outro vice do PMDB assumiu o poder indiretamente:
Itamar Franco, em 1992.
A
última vez em que o partido lançou um candidato para as eleições diretas foi em
1994, com Orestes Quércia participando do pleito. Quércia ficou em quarto lugar
e conseguiu apenas 1,24% dos votos válidos, enquanto Fernando Henrique Cardoso
foi o primeiro candidato, eleito em primeiro turno com 55,22%. Luis Inácio Lula
da Silva e Eneas Carneiro ficaram em segundo e terceiro lugar, com 39,97% e
2,10% dos votos, respectivamente.
Articulador político
A
participação de Temer no PMDB, maior partido do país, foi sempre voltada para a
articulação política com parlamentares e presidentes nas últimas duas décadas.
Eleito seis vezes deputado federal (1987-1991, 1991-1995, 1995-1999, 1999-2003,
2003-2007 e 2007-2011), ocupou três vezes a presidência da Câmara dos Deputados
(1997-1999, 1999-2001 e 2009-2010). Licenciou-se do cargo de deputado somente
para reassumir a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo e, depois, a
Secretaria de Governo.
No
passado, já havia sentido a responsabilidade de comandar o país, mesmo que
provisoriamente. Como presidente da Câmara, assumiu a Presidência da República
interinamente por duas vezes: de 27 a 31 de janeiro de 1998 e em 15 de junho de
1999, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso.
De
2001 ao final de 2010, presidiu o Diretório Nacional do PMDB, mas, em 2011,
licenciou-se do cargo para assumir a vice-presidência.
Vice “decorativo”
A
aliança entre PMDB e PT começou no primeiro mandato de Lula e culminou na aprovação
da candidatura de Dilma Rousseff à presidência com Michel Temer como vice na
chapa para as eleições de 2010. A escolha de Temer gerou resistência dentro do
PT, mas sua capacidade de diálogo e força política no Congresso o fizeram ser o
preferido para o cargo.
No
entanto, no primeiro governo de Dilma já era claro o distanciamento entre a
ex-presidente e Temer. A ele ficava a função de participar apenas de fóruns
comerciais representando o Brasil no exterior.
Com
pouco espaço para o vice no primeiro mandato, o PMDB foi resistente para
aprovar a dobradinha com o PT para as eleições de 2014, mostrando que havia
rachaduras internas no partido.
Diante
da crise política do segundo mandato de Dilma e após derrotas na Câmara
lideradas pelo ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, Temer foi chamado para
assumir as funcões do ministro de Relações Institucionais. No entanto,
enfrentou problemas para fazer com que o governo cumprisse as negociações que
ele articulava.
Após
a aprovação do impeachment na Câmara, rompeu de vez com Dilma e a escreveu uma
carta em que se dizia um “vice decorativo” que não era ouvido pela então
presidente.
Em
abril, pouco antes do afastamento da petista, ele enviou um áudio a
parlamentares do PMDB em que falava como se estivesse preparado para assumir o
governo e explicava como iria conduzir o país. Naquela altura, Dilma dizia que
não tinha por que desconfiar do vice-presidente e tentou amenizar a crise.
Governo interino
Com
o afastamento de Dilma no dia 12 de maio de 2016 para a abertura do processo de
impeachment, Temer assumiu como presidente interino. Na primeira semana de
governo, foi duramente criticado por montar um ministeriado 100% branco, sem
mulheres e com políticos envolvidos em escândalos de corrupção.
Naquele
momento, ele havia perdido a chance de sinalizar, logo no início, que – para
além das questões pertinentes à economia – sua gestão também estaria alinhada
com temas caros para a sociedade, como a igualdade racial e de gênero. Se no
seu discurso de posse, Temer fez um claro aceno ao mercado e à bancada
religiosa do Congresso, ele não fez o mesmo para movimentos próximos ao governo
petista e aumentou a desconfiança sobre a sua capacidade de liderança do país.
Michel
Temer também não conseguiu prever o quanto a extinção de pastas como o
Ministério da Cultura poderia dar o que falar. Artistas brasileiros fizeram
manifestações no país e no exterior contra o fechamento da pasta e afirmando
que Temer era um dos articuladores de um “golpe” contra Dilma Rousseff. Diante
da pressão do setor, ele reabriu o ministério.
Teve
também que lidar com declarações polêmicas de ministros como Ricardo Barros, da
Saúde, que afirmou que o tamanho do SUS precisaria ser revisto.
Mas,
no governo interino, Temer agradou empresários e setores políticos. Ele montou
uma nova equipe econômica – classificada por economistas como um “time dos
sonhos” - e buscou garantir uma base de apoio sólida no Congresso. O movimento
era para mostrar que sua administração corrigiria os principais erros de Dilma.
Estudo
da Pulso Público revelou que, ao lado da equipe do governo de Fernando Henrique
Cardoso (PSDB), a equipe interina do peemedebista era a mais equilibrada em
termos partidários e a mais coerente com o Congresso desde a redemocratização.
A
consultoria chegou a essa conclusão após calcular a taxa de coalescência do
gabinete de Temer. Tal indicador mede a proporção entre a importância dos
partidos da base aliada no Congresso e a quantidade de ministérios recebidos
por cada legenda. Ele vai de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1, mais proporcional
é a repartição do poder entre as siglas da coalizão.
No
caso do governo Temer, a taxa de coalescência está em 0,805. Durante o segundo
mandato da presidente afastada Dilma Rousseff (PT), não passou de 0,714 – o
pior desempenho nesse quesito desde o governo Collor.
Futuro
Já
durante o período como interino, Temer deixou claro que vai tomar medidas
impopulares para tentar reverter a crise econômica do país. Entre as ações
esperadas, estão a determinação do limite do teto fiscal. Ele já enviou ao
Congresso uma proposta de emenda constitucional que estabelece, de 2017 a 2037,
um teto para os gastos públicos. A proposta é que as despesas não possam ter
crescimento acima da inflação.
Com
o objetivo de mostrar que o Brasil tem capacidade de honrar seus compromissos,
a medida pretende aumentar a confiança dos empresários e da população na
economia. O desafio futuro de Temer será mostrar que pode transformar sua capacidade
de articulação em apoio efetivo no Congresso.
Do Exame
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