Mundo| O triste destino das mulheres sírias no Líbano
Estima-se
que existam hoje no mundo 21 milhões de pessoas vivendo em regime de trabalho
forçado.
Elas
têm diferentes origens e diferentes histórias, mas dividem um traço em comum: a
situação de vulnerabilidade nas quais viviam e das quais quiseram fugir.
Ludibriadas pela promessa de uma vida melhor, acabam presas em redes
internacionais de tráfico, forçadas a trabalhar das mais variadas formas. Como
escravas sexuais, inclusive.
Esse
retrato sombrio, alertou a organização não governamental Human Rights Watch
(HRW) em um relatório recente, é a realidade de centenas de mulheres sírias
vivendo hoje no Líbano. De acordo com uma investigação da entidade, batidas
policiais em prostíbulos libaneses têm revelado cada vez mais casos de
refugiadas em situação de exploração sexual.
Em
uma delas, realizada em março, 75 mulheres sírias foram encontradas sendo
mantidas contra a vontade em dois estabelecimentos dessa sorte e ao menos 12
pessoas foram presas por tráfico sexual, um crime grave no país. Segundo o
jornal britânico The Guardian, a rede descoberta naquela ocasião é a maior já
vista no Líbano.
A vida no cárcere
Os
relatos divulgados pela HRW, contados por duas mulheres que viveram esses
horrores, são de dar calafrios aos ouvidos mais sensíveis. Ambas viviam na
Síria quando conheceram os traficantes.
Eles
prometeram trabalho e casamento no Líbano, mas no momento em que chegaram ao
país, foram aprisionadas em um bordel chamado Chez Maurice, tiveram seus
celulares e passaportes retirados. Foram espancadas, estupradas e nunca receberam
sequer um centavo.
Ao
jornal The Guardian, a jovem síria identificada apenas como Rama contou em
lágrimas tudo o que passou durante os nove meses em que foi escrava sexual
nesse mesmo local. “Honestamente, eu não tenho mais fé depois do que aconteceu”,
relatou, “quando era espancada dizia ‘Deus, por favor nos salve’ e apanhava
ainda mais”.
Rama
e as outras mulheres resgatadas do Chez Maurice relataram ter sido estupradas
até dez vezes por dia. Eram amarradas em mesas, como se estivessem presas em um
crucifixo, e chicoteadas com cabos. As virgens tinham os himens rompidos com
uma garrafa e o sexo desprotegido era a regra.
Esse
local, no entanto, não é desconhecido das autoridades do Líbano, como mostrou a
investigação da HRW. Em 2011, uma operação revelou que menores de idade eram
mantidas escravas no local, que foi fechado pelas autoridades, mas reaberto
meses depois.
“O
fato de o tráfico ter sido descoberto no Chez Maurice repetidas vezes nos
últimos anos traz à tona dúvidas sobre a efetividade das autoridades”, disse
Skye Wheeler, pesquisadora ouvida pela entidade. “O Líbano tem que rever a
forma como lidou esse caso e como vem tratando do tráfico sexual”, disse.
Guerra na Síria
Palco
de uma intensa guerra civil entre rebeldes e tropas do governo de Bashar Al
Assad, a Síria parece estar se desintegrando enquanto militantes do Estado
Islâmico (EI) aproveitam o vácuo de poder para ampliar o controle no país.
A
violência tem impactado com força a população síria, que batia a marca de 20
milhões antes do início da guerra em 2011. Estima-se que esse conflito tenha
gerado ao menos 4,8 milhões de refugiados e 6,6 milhões de deslocados. O número
de mortes é próximo de 500 mil.
Da Exame
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