O
presidente do Senado, Renan Calheiros, defendeu uma mudança na lei da delação
premiada, durante conversa gravada com o ex-presidente da Transpetro, Sérgio
Machado.
Segundo
a Folha de S.Paulo, a intenção de Renan é impedir que um preso se torne
delator, que é um procedimento largamente utilizado pela operação Lava Jato.
Ainda
segundo a Folha, durante a conversa, Machado sugeriu que era necessário
"passar uma borracha" no Brasil, por meio de "um pacto".
Renan
teria respondido: "antes de passar a borracha, precisa fazer três coisas,
que alguns do Supremo [inaudível] fazer. Primeiro, não pode fazer delação
premiada preso. Primeira coisa. Porque aí você regulamenta a delação".
Para
Renan, os políticos todos "estão com medo" da Lava Jato. "Aécio
[Neves, presidente do PSDB] está com medo. [me procurou] 'Renan, queria que
você visse para mim esse negócio do Delcídio, se tem mais alguma coisa'",
de acordo com transcrição do jornal.
Machado
respondeu: "Renan, eu fui do PSDB dez anos, Renan. Não sobra ninguém, Renan."
Sérgio
Machado, investigado pela Lava Jato, gravou pelo menos duas conversas com Renan
Calheiros, segundo a Folha, em acordo de delação premiada.
Ele
também gravou o senador Romero Jucá, que, depois da divulgação, foi exonerado
do cargo de ministro do Planejamento no governo provisório de Michel Temer.
Dilma e STF
Na
conversa, Renan também sugeriu que poderia "negociar" com membros do
STF a "transição" de Dilma Rousseff, hoje afastada da Presidência.
Machado
quis saber por que Dilma não "negocia" com os membros do Supremo.
Renan respondeu: "Porque todos estão putos com ela".
Renan
narrou que a presidente Dilma teria dito a ele: 'Renan, eu recebi aqui o
Lewandowski, querendo conversar um pouco sobre uma saída para o Brasil, sobre
as dificuldades, sobre a necessidade de conter o Supremo como guardião da
Constituição. O Lewandowski só veio falar de aumento, isso é uma coisa
inacreditável'.
Renan
Calheiros ainda citou uma delação da empreiteira Odebrecht, que "vai
mostrar as contas", em uma provável referência à campanha eleitoral de
Dilma Rousseff.
Rodrigo Janot
No
meio do diálogo, Machado critica o procurador-geral da República, Rodrigo
Janot. "O Janot é um filho da puta da maior, da maior...", mas a
resposta de Renan é inaudível.
Machado
prossegue: "Renan, esse cara é mau, é mau, é mau. Agora, tem que
administrar isso direito. Inclusive eu estou aqui desde ontem... Tem que ter
uma ideia de como vai ser. Porque se esse vagabundo jogar lá embaixo, aí é uma
merda. Queria ver se fazia uma conversa, vocês, que alternativa teria, porque
aí eu me fodo."
Renan
responde apenas "Sarney", sugerindo que o amigo procure José Sarney,
e depois recomendando que Machado trace uma estratégia com o prório advogado.
Defesa
Por
meio da assessoria de imprensa, o presidente do Senado afirmou à Folha de
S.Paulo que os "diálogos não revelam, não indicam, nem sugerem qualquer
menção ou tentativa de interferir na Lava Jato ou soluções anômalas. E não
seria o caso porque nada vai interferir nas investigações."
"Todas
as opiniões do senador foram publicamente noticiadas pelos veículos de
comunicação, como as críticas ao ex-presidente da Câmara, a possibilidade de
alterar a lei de delações para, por exemplo, agravar as penas de delações não
confirmadas e as notícias sobre delações de empreiteiras foram fartamente
veiculadas".
"Em
relação ao senador Aécio Neves, o senador Renan Calheiros se desculpa porque se
expressou inadequadamente. Ele se referia a um contato do senador mineiro que
expressava indignação –e não medo– com a citação do ex-senador Delcídio do
Amaral."
Já
a assessoria do STF disse à Folha que o presidente do tribunal, Ricardo
Lewandowski, "jamais manteve conversas sobre supostas 'transição' ou
'mudanças na legislação penal' com as pessoas citadas", isto é, Renan
Calheiros e Sérgio Machado.
Segundo
a nota, Lewandowski "participou de diversos encontros, constantes de
agenda pública, com integrantes do Poder Executivo para tratar do Orçamento do
Judiciário e do reajuste dos salários de servidores e magistrados".
O
PSDB, também em nota enviada à Folha, afirmou que vai "acionar na
Justiça" o ex-presidente da Transpetro.
Do Exame.Com
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