Relembrar fatos tristes, sentir saudade de pessoas que morreram ou ter
de encontrar parentes com os quais não se dá bem são motivos frequentes
para as pessoas ficarem deprimidas nesta época do ano. E não são só
traumas do passado que assombram a virada do ano: a pressão constante
para estar feliz, celebrar e refletir sobre as conquistas do ano também
pode incomodar.
A psicóloga clínica Maria Aparecida das Neves explica que isso
acontece porque o Natal pressupõe um clima de harmonia, de encontro com a
família e, para alguns, isto não é prazeroso. “Tem gente que não tem
afinidade com os familiares, mas sim conflitos. Daí, o encontro se dá
por obrigação e isto desencadeia raiva, sofrimento e reaviva mágoas”,
afirma.
Mesmo com a briga já superada – hoje ela conversa e
convive normalmente com o pai – e o esforço para comemorar a data junto
da filha, Vitória, de 6 anos, e do marido, Antônio, Viviane ainda não
conseguiu retomar a alegria tão típica desta época. “Monto a árvore por
conta da minha filha, mas acho que o Natal perdeu um pouco o verdadeiro
significado. Não considero uma noite especial”, declara.
Superar adversidades com familiares nem
sempre é fácil. No caso de Viviane, foram quatro anos sem conversar com
o pai. No entanto, a psicóloga Paula Pessoa, especialista na área
comportamental, diz que o Natal pode ser até um momento propício para
tentar uma reconciliação, pelo fato de as pessoas ficarem mais
sensíveis. “Tente aproveitar o clima de natal para se aproximar ou, pelo
menos, para não brigar, nem discutir. Este é o período certo para
trabalhar o enfrentamento, olhar adiante, comemorar os momentos bons e
tentar se esquecer das coisas ruins que passaram”, indica a
especialista.
Solidão
Muitas vezes, a
tristeza não vem de nenhuma briga ou conflito familiar, mas, sim, de um
sentimento de solidão. É o caso da artista plástica Adriana Guivo. Ela
se dá bem com a mãe e a irmã, mas se sente solitária na ceia, já que a
família não celebra a data. “Elas não veem nada de especial no Natal. E
eu sinto que esse é um dia tão família que fico triste em não ter como
comemorar. Me sinto um tanto quanto sozinha”, diz ela.
Adriana
conta que já tentou driblar o sentimento de solidão várias vezes, até
mesmo passando o Natal na companhia da família de uma amiga. Apesar de
ter sido bem recebida, a tristeza não passou. “Em vez de me sentir
acompanhada, me senti igualmente chateada ao vê-los ali, trocando
presentes e sendo tão unidos. Talvez seja uma data que me faça perceber
algo que não tenho e que adoraria ter formado”, relata a artista
plástica.
Para resolver questões como a de Adriana, a psicóloga Maria
Aparecida das Neves recomenda tomar a iniciativa de aproximação de
parentes e amigos e jamais se isolar. “O Natal está dentro da gente e,
muitas vezes, é preciso mostrar aos outros a nossa necessidade de
confraternizar e se reunir”, diz a especialista.
Aparecida
sugere fazer convites para um jantar ou um almoço especial, ainda que
não no dia de Natal, e cultivar o hábito de se encontrar com os
familiares de forma mais frequente durante o ano.
E é
exatamente isso que Adriana está fazendo. Neste ano, ela vai reunir
cerca de dez amigos na casa dela para uma espécie de “pré-Natal”, antes
do dia 24, com direito a peru e outros itens tradicionais.
“Acho que, às
vezes, depende de nós mesmos mudarmos o que sempre se repete e não nos
agrada. Mesmo que não seja na noite de Natal, será uma compensação pelo o
que a época, em si, representa”.
Fonte: IG
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