segunda-feira, 22 de julho de 2013

ALTO ARAGUAIA: ARRECADAÇÃO DE R$ 4,2 MILHÕES POR MÊS NÃO GARANTE QUALIDADE DE VIDA AOS MORADORES

Por Bianca Oliveira

Alto Araguaia – Mato Grosso, localizada a 420 km de Cuiabá, com aproximadamente 15.644 habitantes se tornou uma das cidades com maiores PIB (Produto Interno Bruno) do estado. Enquanto no país o PIB per capita brasileiro foi de R$ 19.766,33 em 2010, em Alto Araguaia o índice ficou com aproximadamente R$ 48.650,43 por habitante, segundo estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).  

O município ficou em 9ª colocação no Estado no ano de 2012, de acordo com o índice preliminar do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) divulgado pela Secretaria de Estado de Fazenda (SEFAZ). Para 2013, o incremento é positivo na ordem de + 12,97%, com uma arrecadação de R$ 4,2 milhões por mês.

O aumento na arrecadação e o salto no crescimento econômico da cidade deu-se a partir de 2003, após  instalação de um dos maiores terminais de recebimento de grãos do país, Alto Araguaia se tornou um entroncamento rodoferroviário, corredor de escoamento de grande parte da safra.

No município o crescimento na economia local teve impactos positivos na vida da população com a geração de renda e empregos, como cita o secretário de administração municipal Romildo José de Oliveira Houve um desenvolvimento substancial, Alto Araguaia deixou de ser um município de pequeno porte dentro do estado passando a ser um município gerador de renda, agregador de valores. Um dos municípios mais prósperos dentro do estado de Mato Grosso. Hoje a economia da cidade deixou de ser só agropecuária, sendo hoje vinculada a industrialização, transporte, comércio”.

Segundo Romildo “Ganhamos força e com isso desenvolvemos a capacidade técnica, houve a melhoria na questão educacional com a vinda de novos cursos, fizemos parecerias com o Senai para promover a qualificação da sociedade local, então em  todos os aspectos sociais, econômicos, culturais houve uma mudança considerável de Alto Araguaia”.

No entanto, o alto PIB não garante que essas riquezas sejam revertidas para a população. Apesar do aumento significativo na arrecadação municipal nos últimos 10 anos, Alto Araguaia ainda não conta com saneamento básico, que hoje chega a apenas 7,6% das residências com o escoamento sanitário adequado.

Falta Política Pública na área da saúde, a exemplo da destinação dos resíduos sólidos que está em discussão pelos gestores, do tratamento de água que ainda é feito através de uma simples desinfecção da água, da instalação de uma UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) no hospital municipal, que mesmo com 33,4 % da arrecadação municipal sendo destinada à saúde, ainda há carência de investimentos em equipamentos, infra-estrutura do prédio e recursos humanos especializados.

Atualmente, 17,8% dos recursos do município são destinados a administração, investimentos mais altos que os gastos com a educação que ficou com 17,4% da receita. Os investimentos na assistência social foi uma das mais altas do estado que destinou em média 3,86% enquanto o município gastou 6,2% com essa pasta. Com investimentos de apenas 7,8% em urbanismo os reflexos são vistos em vários bairros que ainda são precários em sua infraestrutura.

Em relação à geração de emprego e renda, o setor que aumentou a participação na estrutura do emprego formal foi a administração pública municipal, que saltou de 16,52% em 2004 para 27,40% em 2010, segundo dados do Panorama Municipal feito pelo Ministério do Desenvolvimento Social de Combate à fome. Hoje, segundo o prefeito Maia Neto, R$ 2,2 milhões são destinados à folha de pagamento de funcionários.

 O setor que mais perdeu participação nessa área foi o agropecuário, caiu de 19,18% para 12,96%, mesmo com políticas públicas voltadas para esse setor. Segundo o secretário de administração Romildo, a gestão tem investido nesse segmento.

Com aproximadamente dez anos de operação no município, o terminal de cargas da ALL (XXX), assim como em outras cidades do país, expande seus horizontes. Com a expansão da malha ferroviária até Rondonópolis, que fará a ligação com todo o estado, parte das empresas que hoje operam em Alto Araguaia em um futuro bem próximo começará a operar nesse novo trecho. A população araguaiense teme que com essa mudança haja queda na geração de emprego e renda e na arrecadação local, embora as empresas afirmam que continuarão a operar na cidade.

O morador e gerente administrativo João Bosco Souza Rezende, 47 se mostra preocupado: “Na época da vinda dos terminais a cidade não tinha emprego era parada. Após a instalação dos terminais a cidade desenvolveu rápido, com certeza o terminal veio trazer pra Alto Araguaia uma nova vida. O que me preocupa é que Alto Araguaia não está preparada para a perda de parte desses impostos”.

O secretário de administração municipal Romildo José de Oliveira reconhece a perda para o município, mas se mostra otimista com as políticas públicas que a atual administração vem realizando: “Nós não pensamos em perda, nós buscamos soluções. Uma das soluções é a viabilização da MT-100 para que possamos abrir uma nova frente de trabalho, a nossa preocupação hoje é com a recuperação da Agrenco para que ela volte a funcionar no município, para geração de riqueza e empregos, nós não devemos focar na perda e sim na busca por novas fontes para que possa suplementar o déficit com a ida da ferronorte até Rondonópolis”.

Compreender e acompanhar as transformações vivenciadas ao nosso redor é um desafio tanto para as autoridades locais quanto para os cidadãos.


E quando elas se referem ao crescimento e ao desenvolvimento econômico a tarefa não é fácil. Por isso, falar dessa questão criando um debate e reflexão eleva o nível de aprendizado, chamando as pessoas para importantes decisões que acontecem no município.

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